Pois eu seria menos feliz
Se permanecesse imerso no tempo vivo."
Sete e meia da manhã, de volta à querida Porto Alegre, Júpiter Maçã na vitrola ,vislumbrando lampejos de futuro. Feliz 2009! Tucuticotucupá-ha-ha!
SIZÍGIA
Por Felipe Fortuna
Jornal do Brasil, Caderno Idéias & Livros, Sábado, 22 de novembro de 2008
Sempre que me envolvo em alguma discussão sobre vanguarda – e sobre as frágeis fronteiras entre as artes – penso na palavra sizígia. Para muitos, sizígia deve ter o efeito de rosebud, a palavra enigmática que explica e traz novas dimensões ao filme Cidadão Kane (1941). Sizígia significa, em astronomia, a situação na qual três corpos celestes permanecem, em algum momento, perfeitamente alinhados. Assim sendo, quando a lua, o sol e o nosso planeta se encontram na mesma linha reta – surge a sizígia (cuja raiz grega significa, justamente, conjunção ou união). Uma parte considerável das vanguardas parece buscar esse instante aleatório de harmonia durante o qual, em vez de destruição ou aniquilamento, passa a existir unidade que cria um objeto ou um fenômeno inteiramente novo. Seja na pintura, na literatura ou na música, o artista tenta muitas vezes introduzir elementos inesperados e intangíveis: o cubismo seccionou as imagens em novos planos visíveis; o enredo de um romance passou a ser a aventura lingüística, não os episódios fictícios; o tempo da melodia também se traduziu por emissão de luzes.
A primeira vez que li a palavra sizígia foi em Wordplay (1992), do artista gráfico John Langdon. No livro, a palavra grafada em inglês – syzygy – ganhou contornos ainda mais espetaculares do que em português – uma vez que exibe três letras iguais alinhadas por três letras diferentes, ou vice-versa, como se trouxesse a definição do conceito na sua existência material. A palavra também serviu para que John Langdon exercitasse, uma vez mais, a arte em que se mostra magistral: a do ambigrama.
O ambigrama é uma palavra estruturada a partir das suas relações de simetria, podendo ser lida, sem mudanças, de pelo menos uma posição oposta. Um aviso como o que se encontra, em inglês, numa academia de ginástica (“NOW NO SWIMS ON MON”, “Agora não se nada na segunda-feira”) pode ser perfeitamente lido de cabeça para baixo, uma vez que é simétrico a partir de um eixo horizontal. Em Wordplay, John Langdon se confessa inspirado pela representação de opostos e por sua harmonização, segundo conceitos que remontam ao taoísmo e à filosofia zen. O logotipo fundamental para a sua visão de simetria e do ambigrama é a representação do Yin e Yang, a circunferência que contém seus espaços igualmente preenchidos pelo branco e pelo preto e, dentro de cada uma dessas cores, dois pequenos círculos com as cores opostas. Com base nesses princípios, o artista gráfico começa a pesquisar modelos matemáticos e chega às obras de M. C. Escher, quando finalmente reconhece: ao pesquisar os pólos opostos, “sem qualquer surpresa, eu tentei fazer com as palavras o que Escher tinha feito com prédios, pássaros e peixes.”
Considere-se um ambigrama como seagulls (“gaivotas”) e toda a sua expressiva idealização do reflexo sobre a superfície do mar, além das linhas leves e arredondadas que se equiparam a asas. Considere-se também bridges (“pontes”) com sua tipografia a lembrar o material bruto da construção, que ainda sustenta, pequena, a letra i. A palavra bridge é em si mesma simbólica da conexão que se pode fazer entre um lado e o outro lado. Ambos os ambigramas podem ser encontrados, entre muitos outros, na página que seu autor atualmente mantém em www.johnlangdon.net, sempre lembrando que ele conseguiu construir um ambigrama com seu próprio nome. Na época em que li Wordplay, porém, dois belos ambigramas chamaram a minha atenção: Sometimes/Never e Perfection, que se utilizam da forma circular e da repetição ao infinito.
Em nenhum momento do livro – e tampouco em Inversions (1989), de Scott Kim, e Ambigrammi (1987), de Douglas Hofstadter – se menciona o poema visual ou o poema concreto. O princípio motriz das pesquisas de todos esses desenhistas gráficos, matemáticos e filósofos é a existência da sizígia entre, por exemplo, o taoísmo, a física e a palavra. Por vias completamente desconhecidas da série literária, e sempre de modo inesperado, as criações surgidas dessas pesquisas passam a ter evidente relevância para o debate sobre vanguarda e sobre os rumos do poema, este com o peso quase secular da “crise do verso”.
Por ora, parece importante lamentar a persistência daquilo que o cientista e romancista C. P. Snow chamou, em 1959, de “as duas culturas”: a separação entre os saberes científicos e os saberes humanistas. Talvez a vanguarda histórica – e, a partir de então, todas as vanguardas – possa demonstrar esse impulso de religação de tudo o que, na vida e na arte, deveria constituir um só elemento. Paradoxalmente, até mesmo a poesia concreta mereceria ser questionada em sua ambição verbivocovisual, pois estaria confundida a muitas outras manifestações semióticas: Marjorie Perloff, em Radical Artifice (1991), livro no qual comenta a poesia na era da mídia, não pressente diferenças entre o poema “Código”, de Augusto de Campos, e algumas placas de carro norte-americanas que estampam outros jogos de palavra. Controvertidas como sejam as vanguardas (bem como suas intenções e seus resultados), não se deve esperar a predominância de uma linguagem que descarte as demais: utopicamente, só mesmo um alinhamento em sizígia evitaria a cizânia.
2. Limpeza do ar (produção de oxigênio e captura do CO² e do pó): Como todos os vegetais, os que estão sobre os telhados capturam CO² e liberam O². Enquanto as folhas sobre o telhado crescem elas fazem fotossíntese e, se há um equilíbrio de crescimento/morte, sempre se estará extraindo CO² do ambiente e repondo O². As plantas filtram o ar, quer dizer retiram as partículas de pó que se prendem na grande superfície de folhas gerada por um capim nativo sobre um telhado. Logo este pó é lavado pela chuva e volta ao solo. As plantas ainda podem absorver partículas nocivas de gás e aerossóis. Pesquisas de Bartfelder demonstram que as plantas podem, inclusive, retirar metais pesados do ar. Medições sobre uma rua suíça deram como resultado que um arbusto de 1m de altura por 0,75m de largura reduz, através do efeito de filtragem, em 50% a contaminação por chumbo da vegetação que está logo atrás dele.
3. Redução dos redemoinhos de pó:
4. Regulação da temperatura:
5. Proteção contra incêndio:
6. Capacidade de retenção de água:
Além de todos estes efeitos benéficos para a edificação e para a cidade, um telhado verde bem feito tem uma vida útil indefinida, muito longa, além de ser espaço vital para insetos, proporcionar aromas e criar uma paisagem urbana mais agradável com cores diferentes do cinzento urbano.
Quatro detalhes de telhado verde (clique para ampliar)
Para mais informações ver:
Minke, Gernot. Techos verdes: planificación, ejecución, consejos práticos. Editorial Fin de Siglo. Montevideo, Uy.
“Menos justificável é a persistência de diretrizes tecnológicas que ignoram os ecossistemas em suas concepções, impondo um fluxo interminável de necessidades e intervenções que se traduzem em gastos crescentes de energia e capital, num processo onde a sustentabilidade é extremamente questionável.”
Será que chegaremos a superar um momento histórico tão assustador quanto o nosso? Este tema clama sua dimensão subjetiva mais que qualquer outro. Na arquitetura esta temática é tratada de forma razoável em termos de "sustentabilidade".
Neste contexto, um livrinho no qual tropecei ha pouco me fez entender um pouco mais sobre esta dimensão estética, simbólica e técnica (intimimamente ligada a tecnologia) da “ciência”. O que parece é que a ciência, que se pretende neutra através de discursos, é, principalmente hoje, completamente ideológica. Esta ideologia científica e a dominação tecnológica trabalham no campo simbólico da repressão de tudo quanto não “faça sentido” para ela e acaba com conhecimentos muito mais profundos do que ela sequer pretende admitir que existam. Mas o que não faz sentido para a ciência hoje? O que não faz sentido são as questões que tratam justamente da superação de tal momento histórico.
Bueno, chega de papo, transcrevo alguns trechos deste livro.
IVAN, J.L. 1995 (2º edição) - Pomar ou Floresta: princípios para manejo de agroecossistemas. Rio de Janeiro, RJ AS-PTA/Ipê, RS- Centro de Agricultura Ecológica-Ipê. 96 pp.
Comentários sobre o método científico
Os indígenas, há milhares de anos, observam a natureza, intuem, deduzem e experimentam, construindo seu saber.
É significativo que a classificação de plantas, insetos e outros animais feita por eles se baseie em características comportamentais, utilitárias, sensoriais, etc. O ser vivo é analisado como tal dentro de inter-relações do ecossistema.
Gato sofrendo vivisecção
Já a ciência ocidental classifica através do isolamento, da vivisseção e da análise fragmentada. A própria ecologia é uma ciência recente e ainda bastante influenciada pelo espírito cartesiano da biologia do século XIX. Mesmo após anos de estudo e experiências de campo, um etmologista gabaritado precisa matar uma abelha para identificá-la com auxílio de equipamentos ópticos. Um índio caiapó, com 12 anos de idade, irá classificá-la pelo zumbido de seu vôo, pela maneira como entra na colméia, , pelo ritual de vôo antes de entrar e, como recurso final, pelo cheiro que exala ao ser esmagada e pelos seus caracteres morfológicos. A morte, a priori, não só é desnecessária como elimina as possibilidades de uma perfeita identificação. Este processo de compreensão dos ecossistemas tornou-se possível através da transmissão oral dos conhecimentos, de geração para geração, durante milhares de anos, em sociedades onde viver é sinônimo de aprender.
Portanto é compreensível que, com menos de 200 anos nos trópicos e subtrópicos, a agricultura desenvolvida pelos imigrantes europeus no Brasil apresente tantos equívocos em relação ao manejo dos ecossistemas nativos.
Menos justificável é a persistência de diretrizes tecnológicas que ignoram os ecossistemas em suas concepções, impondo um fluxo interminável de necessidades e intervenções que se traduzem em gastos crescentes de energia e capital, num processo onde a sustentabilidade é extremamente questionável.
Assim dois pontos são fundamentais para basear nosso trabalho: primeiro, o saber local é importante, mas deve ser contextualizado dentro de uma perspectiva histórica. Num país como o Brasil, o pequeno agricultor do sul tem menos de 200 anos de convivência com os ecossistemas e o conhecimento indígena foi praticamente dizimado. (...).
Na medida em que a ciência avança, inclusive na sua própria epistemologia, ou seja, quando suas próprias bases são renovadas no sentido do holismo, a compreensão dos fenômenos naturais não ocorre mais de forma reducionista e compartimentada. Neste ponto começam a surgir infinitas possibilidades para a convivência humana. É o momento para o reconhecimento do homem como parte da teia da vida, não como centro ou criador. (...).
“Os animais se dividem em* (segundo uma enciclopédia chinesa):
A incapacidade de reconhecer uma nova ordem que não seja a nossa traz consigo uma estrutura científica legada pelo autoritarismo e que não consegue ver a vida como um eterno pulsar de possibilidades.
(...)
Uma crítica radical aos pressupostos da metodologia científica demonstra, com evidências inequívocas, a importância da ruptura com o sistema de princípios firmes, imutáveis e absolutos. Paul Feierabend considera que: “A coerência, por força da qual se exige que as hipóteses novas se ajustem às teorias aceitas é desarrazoada, pois preserva a teoria mais antiga e não a melhor.” Uma comparação científica entre duas teorias só é possível quando for observado o contexto daquela que está sendo testada.
* FOUCAULT, Michel. As Palavras e as Coisas: uma arqueologia das ciências humanas
Marcou a presença de poucos delegados do Orçamento Participativo (O.P.)– aproximadamente um por instituição – e a quase que total ausência de conselheiros. Apesar disto, a discussões foram bastante frutíferas.
Colocou-se em pauta reinvindicações de Planos de Investimento do O.P. tão antigos quanto de 1998 e por críticas muito duras ao Departamento Municipal de Habitação a prefeitura municipal, especialmente em relação a dois pontos: não cumprimento de promessas e burocracia. Estas questões gerais, no entanto, foram apenas repetições de outras demandas já demonstradas em outras ocasiões, como nas reuniões de preparação para a formulação do Plano Municipal de Habitação de Interesse Social em março deste ano.
As novidades foram na vontade de o conselheiro do O.P. Nelson propôr a criação de uma Comissão de Habitação, resposável por levar adiante discussões focadas na resolução dos problemas das comunidades e, especialmente, no planejamento e estruturação das ações futuras.
Dentro deste contexto, se citou a existência de diversas instâncias de financiamento e de possibilidades de projetos por parte das próprias comunidades, como através do Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social. O que fica claro, no entanto, é que há um incrivel aumento na demanda de profissionalização das propostas e planos para se acessar os financiamentos, principalmente aqueles em editais federais. Estas sistuações junto com a necessidade de participação e deliberação em fóruns de planejamento, conselhor de desenvolvimento e outras instâncias nas quais foram conquistadas a voz e o voto pelas comunidades não facilitam em nada o preparo para a efetiva participação de pessoas que, em sua maioria, não têm formação técnica nem educação formal e portanto, lidam com as questões do urbano de maneira muito próprias de sua vivência, de suas experiências.
Algumas dessas maneiras são muito sábias e interessantes, mas outras são superficiais e adicionam pouco para as decisões. De qualquer maneira, são legítimas enquanto representarem suas comunidades e isso tem de ser visto como uma vitória do empoderamento e através da democracia das comunidades de Porto Alegre.
Estes processos de participação e a flexibilização dos financiamentos federais, no entando, pouco mudaram as condições de acesso ao saber técnico e profissional para a elaboração das formalíssimas cartas-convite dos editais ou dos detalhados planos necessários para se trabalhar em comunidades. As comunidades poderiam, muito mais legitimamente inclusive, promover por sí próprias as mudanças que vêem necessárias, mas para isso precisam compor equipes de projeto capacitadas e empenhadas para resolver as complexas condições que visam melhorar.
Os técnicos, por sua vez, também pouco mostram-se inclinados a abraçar estas atividades. Razões de sustentação econômica, lucro e as possibilidades do mercado os atraem mesmo que seja para serem os piores de sua classe nesse mercado saturado, injusto e pouco valorizado que é o de projetos urbanos e arquitetônicos. De minha parte, admito que não tenho a segurança de um contrato fixo, encargos sociais em dia, mas estas são flexibilidades temporárias – assim espero - enquanto não achamos a maneira correta de desenvolver as atividades profissionalmente de maneira a sutentar-nos, inclusive em nossos luxos pequeno-burgueses. Sei, no entanto, que estas questões ao menos atualmente são irrelevantes frente a liberdade com a qual desenvolvo meu trabalho, com as relações que desenvolvo com as pessoas da comunidade e de fora.
Sinto que há um gigantesco potencial de atuação de arquitetos diretamente nas comunidades para diversos fins, infra-estrutura, habitacão, planejamento de longo prazo, etc. Falta que achemos condições de financiamento para estas atividades e que nos preparemos para isso.
Continuarei em breve.