sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Feliz 2009!

"Minhas asas estão prontas para o vôo,
Se pudesse, eu retrocederia
Pois eu seria menos feliz
Se permanecesse imerso no tempo vivo."
(Gerhard Scholem, Saudação do anjo.)


Há um Quadro de Klee que se chama Angelus Novus. Representa um anjo que parece afastar-se de algo que ele encara fixamente. Seus olhos estão escancarados, sua boca dilatada, suas asas abertas. O anjo da história deve ter este aspecto. Seu rosto está dirigido para o passado. Onde nós vemos uma cadeia de acontecimentos, ele vê uma catástrofe única, que acumula incansavelmente ruína sobre ruína e as dispersa a nossos pés. Ele gostaria de deter-se para acordar os mortos e juntar os fragmentos. Mas uma tempestade sopra do paraíso e prende-se em suas asas com tanta força que ele não pode mais fechá-las. esta tempestade o impele irresistivelmente para o futuro, ao qual ele vira as costas, enquanto o amontoado de ruínas cresce até o céu. Esta tempestade é o que chamamos progresso.

Walter Benjamin, Obras Escolhidas, Ed. Brasiliense, 1° edição. Sobre o Conceito da História.

Sete e meia da manhã, de volta à querida Porto Alegre, Júpiter Maçã na vitrola ,vislumbrando lampejos de futuro. Feliz 2009! Tucuticotucupá-ha-ha!

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

O nome da foto é...


"Será que a bolha de Dubai está a ponto de estourar?"
ou Os Efeitos da Tal Crise na Louca Aventura das Arábias [titulo alternativo do ArqBlorum].

foto de Mark Horn no site da ArchRecord.

Uma nota de rodapé

"(...) A impressão que me fica é que o mix de reflexôes que o arquiteto de esquerda se debate, envolvendo estética, tecnologia, luta de classes voluntária e involuntária, finança, corrupção, política, demagogia, especulação imobiliária, planejamento, cegueira, enganação grossa, utopia, etc., tem uma relevância notável e que, a despeito da grossura escancarada, ou por causa dela, ele é como que o modelo para um debate estético realmente vivo. A diversidade, o peso e a incongruência atroz dos fatores que o debate dos arquitetos ambiciona harmonizar, naturalmente sem conseguir, são algo único. É o campo talvez em que a discussão estética de nosso tempo encontra, ou poderia encontrar, a sua expressão mais densa e propícia.(...)"

SCHWARZ, Roberto no posfácio de ARANTES, Pedro Fiori. Arquitetura Nova: Sérgio Ferro, Flávio Império e Rodrigo Lefèvre, de Artigas aos mutirões. São Paulo: Editora 34, 2002.

sábado, 22 de novembro de 2008

SYZYGY

Eis o que muitos de nós arquitet@s tentamos dizer: syzygy!

SIZÍGIA

Por Felipe Fortuna

Jornal do Brasil, Caderno Idéias & Livros, Sábado, 22 de novembro de 2008

Sempre que me envolvo em alguma discussão sobre vanguarda – e sobre as frágeis fronteiras entre as artes – penso na palavra sizígia. Para muitos, sizígia deve ter o efeito de rosebud, a palavra enigmática que explica e traz novas dimensões ao filme Cidadão Kane (1941). Sizígia significa, em astronomia, a situação na qual três corpos celestes permanecem, em algum momento, perfeitamente alinhados. Assim sendo, quando a lua, o sol e o nosso planeta se encontram na mesma linha reta – surge a sizígia (cuja raiz grega significa, justamente, conjunção ou união). Uma parte considerável das vanguardas parece buscar esse instante aleatório de harmonia durante o qual, em vez de destruição ou aniquilamento, passa a existir unidade que cria um objeto ou um fenômeno inteiramente novo. Seja na pintura, na literatura ou na música, o artista tenta muitas vezes introduzir elementos inesperados e intangíveis: o cubismo seccionou as imagens em novos planos visíveis; o enredo de um romance passou a ser a aventura lingüística, não os episódios fictícios; o tempo da melodia também se traduziu por emissão de luzes.

A primeira vez que li a palavra sizígia foi em Wordplay (1992), do artista gráfico John Langdon. No livro, a palavra grafada em inglês – syzygy – ganhou contornos ainda mais espetaculares do que em português – uma vez que exibe três letras iguais alinhadas por três letras diferentes, ou vice-versa, como se trouxesse a definição do conceito na sua existência material. A palavra também serviu para que John Langdon exercitasse, uma vez mais, a arte em que se mostra magistral: a do ambigrama.

O ambigrama é uma palavra estruturada a partir das suas relações de simetria, podendo ser lida, sem mudanças, de pelo menos uma posição oposta. Um aviso como o que se encontra, em inglês, numa academia de ginástica (“NOW NO SWIMS ON MON”, “Agora não se nada na segunda-feira”) pode ser perfeitamente lido de cabeça para baixo, uma vez que é simétrico a partir de um eixo horizontal. Em Wordplay, John Langdon se confessa inspirado pela representação de opostos e por sua harmonização, segundo conceitos que remontam ao taoísmo e à filosofia zen. O logotipo fundamental para a sua visão de simetria e do ambigrama é a representação do Yin e Yang, a circunferência que contém seus espaços igualmente preenchidos pelo branco e pelo preto e, dentro de cada uma dessas cores, dois pequenos círculos com as cores opostas. Com base nesses princípios, o artista gráfico começa a pesquisar modelos matemáticos e chega às obras de M. C. Escher, quando finalmente reconhece: ao pesquisar os pólos opostos, “sem qualquer surpresa, eu tentei fazer com as palavras o que Escher tinha feito com prédios, pássaros e peixes.”

Considere-se um ambigrama como seagulls (“gaivotas”) e toda a sua expressiva idealização do reflexo sobre a superfície do mar, além das linhas leves e arredondadas que se equiparam a asas. Considere-se também bridges (“pontes”) com sua tipografia a lembrar o material bruto da construção, que ainda sustenta, pequena, a letra i. A palavra bridge é em si mesma simbólica da conexão que se pode fazer entre um lado e o outro lado. Ambos os ambigramas podem ser encontrados, entre muitos outros, na página que seu autor atualmente mantém em www.johnlangdon.net, sempre lembrando que ele conseguiu construir um ambigrama com seu próprio nome. Na época em que li Wordplay, porém, dois belos ambigramas chamaram a minha atenção: Sometimes/Never e Perfection, que se utilizam da forma circular e da repetição ao infinito.

Em nenhum momento do livro – e tampouco em Inversions (1989), de Scott Kim, e Ambigrammi (1987), de Douglas Hofstadter – se menciona o poema visual ou o poema concreto. O princípio motriz das pesquisas de todos esses desenhistas gráficos, matemáticos e filósofos é a existência da sizígia entre, por exemplo, o taoísmo, a física e a palavra. Por vias completamente desconhecidas da série literária, e sempre de modo inesperado, as criações surgidas dessas pesquisas passam a ter evidente relevância para o debate sobre vanguarda e sobre os rumos do poema, este com o peso quase secular da “crise do verso”.

Por ora, parece importante lamentar a persistência daquilo que o cientista e romancista C. P. Snow chamou, em 1959, de “as duas culturas”: a separação entre os saberes científicos e os saberes humanistas. Talvez a vanguarda histórica – e, a partir de então, todas as vanguardas – possa demonstrar esse impulso de religação de tudo o que, na vida e na arte, deveria constituir um só elemento. Paradoxalmente, até mesmo a poesia concreta mereceria ser questionada em sua ambição verbivocovisual, pois estaria confundida a muitas outras manifestações semióticas: Marjorie Perloff, em Radical Artifice (1991), livro no qual comenta a poesia na era da mídia, não pressente diferenças entre o poema “Código”, de Augusto de Campos, e algumas placas de carro norte-americanas que estampam outros jogos de palavra. Controvertidas como sejam as vanguardas (bem como suas intenções e seus resultados), não se deve esperar a predominância de uma linguagem que descarte as demais: utopicamente, só mesmo um alinhamento em sizígia evitaria a cizânia.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Estruturas: variação, conexão e liberdades

A [contra-]tradição Moderna de Le Corbusier
No princípio do século passado, o arquiteto Le Corbusier pontuava seus 5 pontos (os pilotis, a planta livre, a fachada livre, as janelas em fita e o terraço jardim) como soluções a arquitetura que abarcariam, de uma só vez, o retorno às estruturas clássicas e a libertação do sujeito moderno da compartimentação e descontinuidade dos espaços promovida pelos movimentos correntes na arquitetura de então. Ainda mais, pretendiam alcançar a produção de uma nova sociedade através da ordenação correta dos fluxos e comunicações dos espaços privados e públicos.
No urbano, isso se traduz no Plan Voisin e demais planos utópicos modernistas a partir da tabula rasa, da liberação do solo urbano e da criação de comunidades suspensas, organizadas e planejadas através da continuidade estrutural, segregação dos usos e liberdade de circulação.

A retomada Situacionista da busca pela libertação da subjetividade
Em meados desse mesmo século, a Internacional Situacionista (IS) sugere uma nova libertação do sujeito, desta vez de todo e qualquer sujeito, sugerindo soluções através da revolução de toda a sociedade. Esta libertação, desta vez, é a própria libertação da Crise do capitalismo, do Espetáculo, do Mito do Herói – a busca pela experiência do espaço urbano, pela vivência integral do vivido. Estes são aspectos da própria crise da objetivação da subjetividade, ou seja, do tornar coisas as pessoas, de mediar todas as relações por matéria ou abstrações de materialidade (como o dinheiro) que distanciam o sujeito (aquele que faz) do desejo de sua ação (sua vontade de fazer) a ponto de esta última estar alienada ao primeiro, de sê-lo estranha, alheia, de impossível reconciliação, relegada à abstração fundamental do valor[1].
O artista plástico Constant Nieuwenhuys, membro fundador da IS em 1957 provoca a tradição moderna através de seu próprio ferramentário. Parte da visão de sociedade futura que prevê o fim da labuta – da necessidade de trabalho não-prazeiroso – através da automação total da produção e o início da sociedade do jogo na figura do homo-ludens – evolução social do homo-sapiens. Para esta sociedade liberta, o espaço não necessitaria seguir as funções modernas – trabalhar, habitar, recrear e locomover – mas apenas provêr oportunidades para o jogo: a deriva – a livre experiência dos espaços pelos sujeitos – e a construção de situações – jogos de ambiência e comportamento que colocam o fazer arte no cotidiano, a vida jogo, a vida arte.
Essa visão de sociedade tomou forma em inúmeras maquetes, pinturas, plantas, collages, impressões, filmes, gravuras, palestras e manifestos sobre New Babylon (Nova Babilônia), uma cidade-utopia que se colocaria por sobre a superfície da Terra, eventualmente cobrindo todo o planeta. Ela, como no Plano Voisin, suspenderia as atividades e deixaria o solo livre para circulação de veículos, pessoas e criação de imensos parques. Nos planos superiores, uma imensidão de espaços labirínticos em multiplos níveis, com características ambientais perfeitamente controláveis espontaneamente por qualquer de seus ocupantes – ou por “equipes situacionistas” – oportunizariam a criação das situações constante e continuamente, num jogo sem cessar de liberdade e exercício de subjetividade. “A vida social se torna jogo arquitetônico. Arquitetura torna-se a pulsante expressão dos desejos em interação”[2].
O tornar-se concreto das críticas sociais feitas ao Espetáculo e à alienação foi o pomo da discórdia entre Constant e Guy Debord, um dos fundadores e o principal expoente situacionista. Debord já era então conhecido por sua pureza conceitual e promovera o desligamento de diversos membros da Internacional Letrista – que precedera artisticamente a Internacional Situacionista – e desta última até o ponto de praticamente ser o único “aceito” como seu condutor. É, no entanto, Constant quem decide sair da Internacional Situacionista em 1959 por perceber que o movimento se afastava da crítica a cidade. Em entrevista em 1999 sobre as críticas de Debord ao seu trabalho posteriormente a seu desligamento da IS declara: “Eu não queria mais aquele contato , pois eu estava continuando de minha própria maneira e isso me afastou dos situacionistas. Debord e os outros situacionistas, voltaram-se mais e mais para a política, para afirmações políticas. A preocupação com o urbanismo, o Urbanismo Unitário estava desaparecendo lentamente.”
Fora este aspecto purista da IS, é valida a crítica a obra de Constant como promotora, ao mesmo tempo, da mais ampla liberdade e do potencial de controle absoluto. Esta contradição imanente às estruturas livres é aceita como não resolvida pelo próprio Constant que, de certa maneira, assume o caráter dúbio das estruturas (utópicas) na formação da sociedade: por um lado determinam o comportamento possível, por outro este comportamento é capaz de alterar profundamente sua função[3].
Em contraste a pesquisa plástico-formal-propositiva de Costant, escreve Debord sobre as tentativas de “realização” – de tornar real a crítica – da tese central sobre a vivência da cidade da IS, o Urbanismo Unitário, na Alemanha: “A contestação da sociedade atual no seu conjunto é o único critério de libertação autêntica, seja no âmbito das cidades, seja em qualquer outro aspecto das atividades humanas. Se assim não for, a ‘melhora’, o ‘progresso’, será sempre destinado a azeitar o sistema, a aperfeiçoar o condicionamento que necessita ser derrubado no urbanismo e em toda parte.”. Portanto, torna-se impossível qualquer tentativa de realização quando não for este movimento também total. Analogamente às criticas a Constant, Debord critica artigo de Henri Lefèbvre na Revue Française de Sociologie: “ O titulo do artigo ‘Utopia experimental: por um novo urbanismo’ [de Lefèbvre] já mostra todo o equívoco. Pois o método da utopia experimental, para corresponder de fato ao seu projeto, deve evidentemente açambarcar a totalidade, isto é, sua execução não deve levar a um ‘novo urbanismo’, mas a um novo uso da vida, a uma práxis revolucionária.”[4]
Vidler[5] cita Adorno para dizer que esta seria a própria contradição das utopias modernas, relacionando portanto Constant com a tradição do princípio do século XX. Em ambas, argumenta Vidler, há um desejo de descolamento da realidade – de utopia – que se contrapõe à sociedade opressora no mesmo momento em que busca não ser visto como utópico, de modo a “não ser culpada de administrar conforto e ilusão”[6].
O limite de Constant seria então sua própria ferramenta de libertação: a não definição de suas soluções na forma diagramática de sua apresentação[7] permite sua re-interpretação não em termos literais, materiais, mas em indicativos de possibilidades. Constant não presumia-se capaz de apontar as soluções para a cidade futura, nem mesmo se considerava responsável por realiza-la através da forma construída somente. Ao contrário disso, determinava-se a partir das formas existentes de cidade para negá-las e através de um diagrama utópico, apontar para possibilidades de futuro. Dessa maneira, se não resolve o dilema entre as diferentes naturezas das estruturas do espaço, tece, de maneira sensível e tensionada, uma relação dialética entre modelos contraditórios: de um lado, (mega)estruturas totalizantes que caracterizam e dão suporte ao todo, de outro, (micro)preenchimentos dinâmicos, labirínticos e eternamente incompletos.
Por outro lado, há também um movimento de negação e afastamento da cidade existente que já não é o do detournment: o fato de suas utopias pairarem por sobre a forma construída. Desse modo, exibem a impossibilidade de solucionar a cidade a partir da forma atual, rejeitam a sociedade e a expressão construída de sua cultura através do afastamento quase que completo, que, no mínimo, busca a compartimentação daquilo que é versus o porvir.
Semelhante neste aspecto está a tradição moderna e suas sucessivas críticas: Ville Radieuse, as cidades idealizadas dos construtivistas Chernikov e Leonidov, as mega-estruturas de van Eyck, Bakema, Woods e Yona Freedman e a releitura dos CIAM do TEAM 10.

Algumas reformulações contemporâneas
É a partir dessa bagagem crítica do moderno heróico que, ao final do século XX a figura auto-mitificadora de Rem Koolhas surge tratando destes temas de maneira ao mesmo tempo revigorada e carregada das mesmas contradições de ambos os movimentos. Por um lado, expõe em seus trabalhos iniciais como Delirious New York as estruturas compositivas das metrópoles capitalistas amadurecidas que, em Manhattan, teriam um de seus exemplos mais expressivos.
Nova Iorque seria um sistema de liberdade e autonomia para as peças individuais, ao mesmo mtempo em que as absorvia em sistemas-envolvente reguladores. Na análise de Koolhas, a grelha retangular funciona como o libertador dos movimentos, ao prover todos os pontos com acessibilidade máxima através da conectividade e da regularidade dos contatos. Por outro lado, esta estrutura em grelha é justamente o limitador geométrico base para a variação lote a lote: nenhum equipamento poderá se sobressair da estrutura completamente ao estar envolvido pela grelha democratizante.
O segundo grau de complexidade ocorre dentro dos lotes, mais especificamente na composição dos arranha-céus: a autonomia total entre andares permite a total indefinição programática e o descontrole funcional (em termos de planejamento das atividades) envolvidos em uma unidade coesa que é a torre do arranha-céus. Citando Koolhaas “Através do arranha-céu, cada lote da Metropolis acomoda – em teoria ao menos – uma instável e imprevisível combinação de atividades superpostas e simultâneas, cuja configuração está fundamentalmente além do controle do arquiteto ou planejador”[8].
Nesta composição há a libertação do conteúdo programático dentro dos envelopes estabelecidos. Para tanto, ocorreria o jogo de duas características-chave dos arranha-céus: a primeira é a estratificação independente vertical; a segunda é a unicidade criada pela pele envolvente independente, por sua vez, das atividades internas. “A genialidade de Manhattan é a simplicidade de seu divórcio entre aparência e performance: ela mantem a ilusão da arquitetura intacta, enquanto entrega-se de todo o coração as necessidades da metropole.”[9]
A formalização da genericidade através da planta-livre e da envolvente “neutra” ou alienada ao conteúdo (as atividades que ocorrem no interior e sua configuração formal) é no entanto limitada e a prática posterior de Koolhaas irá buscar novos limites a configuração estrutural da arquitetura. Em seu ensaio Bigness[10] (a característica de uma determinada edificação de simplesmente Ser Grande) Koolhaas sugere outro patamar de separação: aquele entre os grandes programas e a urbanidade – tanto por sua escala arquitetônica e física quanto por seu impacto urbano concentrado. Estes programas seriam por sí só capazes de “criar” seu entorno, ou seja, serem autônomos às pré-existências e às definições da urbanidade por encerrarem-se em sí mesmos e por criarem tal congestão e intensidade de uso que justificariam-se por sí mesmos.
A partir destas definições, Koolhas lança-se ao projeto para o concurso do Terminal de Zeebruge com a metáfora de uma “Babel Eficaz”. Concentra – em um único envelope de forma geóide – todo a multiplicidade do programa e de suas estruturas. Cria um envólucro unificador capaz de “domar” estruturas absolutamente diferentes, sem necessariamente reconciliá-las em nível mais fundamental. Desta forma, elementos tão diferentes quanto rampas de acesso a veículos, plataformas de embarque às balsas, áreas de hotel, restaurantes, cassino, cinemas e outros programas menores são justapostos e sobrepostos no interior de um todo que busca lhes conferir unidade.
O mote mais saliente nesta proposta é justamente a dissociação entre forma externa e estrutura/atividade interna: enquanto a forma externa é de “difícil classificação”, ela engole os programas, negocia átrios de diversos pavimentos de altura com rampas e plataformas articulados em duas grandes metades do geóide, cortadas no sentido vertical e unidas somente no topo por um imenso domo de vidro com terraços. A forma externa é propositadamente indefinível: volume derivado de um imenso cone com sua ponta menor apontando para baixo e encimado por uma semi-esfera, perfurado aleatoriamente e com a visível intenção criar a sensação de desequilíbrio de massa, com o topo mais “pesado” que a base. Desta maneira, Koolhaas quer evitar o fácil reconhecimento ou a identificação – no sentido que em Adorno define – e tornar o objeto monumental, destacando-se a qualquer custo na paisagem monótona da zona portuária: “como injetar um novo ‘símbolo’ na paisagem que – através da atmosfera e escala somente – torna qualquer objeto tanto arbitrário quanto inevitável”[11].
As atividades internas, enquanto isso, assumem formas bastante utilitárias. As rampas tomam formas diretamente derivadas de obrigações de eficiência geométrica: grandes círculos ao redor do núcleo central. As áreas do hotel e restaurantes são imensas lajes planas com forma de semi-círculo, como que cortadas por linhas radiais ao redor dos átrios que perfuram do topo a base o grande edifício. Escritórios são baias distribuídas perimetralmente junto às paredes externas. As plataformas de acesso aos navios são grandes braços treliçados atirantados ao volume e que se projetam em sua totalidade para fora dele, em direção ao mar. O todo criado por essas justaposições verticais e horizontais busca o monumental tanto interna quanto externamente: há grandes átrios, continuidades verticais através das escadas rolantes e elevadores, a unidade externa citada, as perfurações ciclópicas na casca unificadora e o gigantismo das treliças das plataformas e das bandejas dos acessos de veículos que buscam o estranhamento da escala do edifício em relação à humana. Assim, a lógica estrutural e espacial são também múltiplas e divergentes, unidas apenas na sua subsunção ao todo envolvente.
Diversos projetos do arquiteto holandês progridem nessa exploração formal da dissociação. O edifício Congrexpo em Lille é composto por três programas formalmente independentes, porém conectados e unidos sob o mesmo teto numa assumida “organização das aparências”, enquanto a proposta para a Très Grande Bibliothèque de Paris em 1989 faz ainda um diálogo dessa dissociação com o vazio, tendo como ambição declaradamente “livrar a arquitetura de responsabilidades que não pode mais sustentar e explorar esta nova liberdade agressivamente”, assim, arquitetura teria a missão de criar “novos espaços simbólicos que acomodam o desejo persistente de coletividade”[12].
Neste último projeto, a tradição cartesiana moderna enfrenta o encontro com a aleatoriedade dos vazios. O espaço torna-se um diagrama desta disputa: dezenas de imensas lajes quadradas e perfeitamente ortogonais repetem-se verticalmente sustentadas por nove imensos pilares-elevadores-outdoors distribuídos também perfeitamente ortogonalmente e são “cortadas” por diversos vazios das bibliotecas dentro da grande biblioteca. O programa é visto também como um imenso contêiner: toda a informação do mundo – seja ela eletrônica, analógica, impressa, ou gravada – disponível em um único e gigante objeto urbano. Desta forma o conceito de Ser Grande[13] aparece em sua qualidade obliteradora de individualidades: através de sua escala, é criada a unidade e o sujeito (qualquer que seja) é tornado submisso: é a própria aceitação da condição de Crise.
Desta maneira, torna-se evidente a contradição essencial a esse esforço: por um lado, busca-se criticar as fronteiras das estruturas do espaço e da arquitetura, mas por outro assume-se determinada postura de limitação a crítica – a submissão a condição de estar dentro da crise. Koolhaas mostra como a arquitetura pode ser a antena do caracol, que tateia no escuro da Crise em busca de saídas, mas ao mesmo tempo reproduz de maneira intensa as características mais marcantes dessa Crise na limitação a capacidade de ação do sujeito arquiteto – aquele que concebe o espaço e antevê suas possibilidades – nas condições existentes da sociedade. Desta forma, me parece que clara a postura de ser agente social, mas não a de ser o protagonista na revolução do sujeito e de sua libertação.

Conclusão
É a partir deste viés que chegamos ao que consideramos a condição da arquitetura e das estruturas na libertação do sujeito. A nossa capacidade – enquanto arquitetos – é a de superar as formas existentes na busca pela liberdade de ação do sujeito contemporâneo, seja ele pobre, rico, trabalhador ou empresário. Não entrarei aqui no mérito da questão do sujeito revolucionário pelo próprio diagramatismo das questões aqui expostas. Por outro lado, somos limitados a atual função destinada ao arquiteto e ao projeto arquitetônico na sociedade, que são extrema e historicamente conectadas as maneiras dominantes de produção de cidade.
Nessa discussão, os tipos estruturais nos trazem enormes potenciais de configuração para a variação e liberdade. São o ferramentário para a realização dos discursos, conceitos e críticas a sociedade existente e suas cidades. Desta forma, buscamos o que seja condizente com os desejos de mudança em frente à crise que se desenrola e que apresentem possibilidades de superação a ela. No panorama das críticas sociais, as formulações utópicas têm importância ímpar de propor, para crítica, possibilidades aparentemente factíveis para sua realização. Esta ingenuidade natural – licença poética em nome da revolução das formas – por sua vez promove uma libertação das situações existentes em direção a sua negação e superação em novas maneiras de se viver e habitar.
Esta libertação, por sua vez, tem enorme importância por tentar ir além do que há sem partir de bases já corrompidas pelos seus vícios ou que não necessitem em tese de seus mecanismos sociais para se realizar. A falsa capacidade de clarividência que têm aponta a lampejos do que poderá acontecer, direcionando tanto a crítica quanto a prática profissional para a realização das revoluções e reformas e evoluções necessárias e possíveis.
É em grande parte a este apontar de direção que podemos interpretar diversas novas ferramentas extremamente reais e diretamente aplicáveis e, por isso, fadadas ao fracasso quando postas em contraste com as utopias. O choque entre o que acontece por continuidade com que o existe – e portanto não tem capacidade de libertação efetiva desde seu início, esforço natimorto – e as utopias que rechaçam o existente e buscam a maior autonomia em relação a realidade de que são capazes – e que, mesmo não tendo sucesso completo ou até mesmo sem ser realizadas, condicionam os esforços subseqüentes a ir além e quebrar ainda mais com a base existente.
Nos parece claro, no entanto que esta aparente impossibilidade de realização é inescapável e não deve ser o motivo pelo qual não devamos buscar a realização das críticas. Pelo contrário, ela é a garantia de que nem hoje nem no futuro conseguiremos alcançar as soluções finais propostas pelo racionalismo e por tantos outros movimentos intelectuais, mas que o esforço por libertar-se do existente necessita ser contínuo, até mesmo cotidiano, para alcançar a revolução pretendida.
Dessa maneira, o resgate e articulação das estruturas nas obras de Constant e Koolhas, por mais babilônicas que sejam e mesmo que aconteçam através de processos completamente inseridos na história atual e na sociedade exploradora do capital permitem – como periscópios em submarinos – vislumbrar possibilidades de liberdade condizentes com os conceitos críticos dos quais partimos.
Novamente, o caráter dúbio das configurações se apresenta de maneira a salientar a impossibilidade de ver – de onde estamos – o fim da história e A Revolução tão sonhada em épocas passadas e nos obriga a criticarmos a nós mesmos enquanto buscamos novas soluções mais críticas que as de ontem e menos que as que virão.
Longe de demonizar Koolhaas ou de santificar Constant ou outro pensador revolucionário, devemos justamente desconstruir os mitos de heroísmo existentes no Espetáculo e buscar as ferramentas para o exercício da subjetividade nas cidades e em toda a arquitetura.Isto certamente passa por criticar a condição supostamente científica da arquitetura e seu papel como mera metafísica alienante à subjetividade na criação do espaço.
Acreditamos que as soluções habitam diversos tempos e escalas diferentes, sendo também ingênuo pensar que há apenas uma ou outra urgência. Dessa maneira, cabe a todos os momentos da construção da vida cotidiana a crítica e sua realização. Talvez a chave que falte para abrirmos estas portas é a crítica ao fazer arquitetura em sua totalidade, sem que se apegue a elementos, formas ou métodos específicos, mas que busque a renovação integral, mesmo que isso signifique sua dissolução enquanto disciplina.
A partir desta afirmação, propomos o estudo das estruturas como uma das ferramentas para libertação do processo de projeto do arquiteto e da própria construção do projeto: definições coletivas, execuções participativas e variações durante a vida das edificações seriam inseridas como germens através da adaptabilidade das estruturas. Sabendo que esta é uma atuação incompleta, busca-se dotar o projeto (como processo) não só da capacidade de evoluir e modificar-se, mas da incerteza de sua concretização em forma determinada. Busca-se colocar uma dúvida essencial dentre os elementos projetados.
Os diferentes tipos estruturais, por sua vez são formas incompletas dessa variação: permitem diversas situações de configuração espacial, mas são, sabidamente, limitados na sua capacidade de libertar, pois já condicionam as variantes possíveis. Além disso, surgem diversas contradições em cada modelo estrutural existente, que permitiram maior ênfases em determinadas variações e facilitarão certas atividades em detrimento a outras.
A prática da arquitetura e do projeto, que nasce da gênese da modernidade no renascimento[14], já é a metafísica que irreconcilia – como verbo ativo – a capacidade do sujeito de determinar o espaço. Ela se fragmenta em ideologias, assume as formas do momento, os métodos mais interessantes encerrados sí próprios e falha em realizar a superação da abstração valor enquanto mediadora da realidade com o sujeito. Agrava este fato ao ser fragmentada em especialidades na sua prática e parte já do princípio científico iluminista da Verdade, com a qual já construiu verdadeiros crimes espaciais.
Necessitamos, portanto, de uma ampla revisão dos postulados mais básicos de nossa atuação em sociedade. Para isso, no entanto, não acreditamos que a inação ou a crítica negativa apenas sejam soluções possíveis. De outra maneira, pensamos na natureza da prática como possibilitadora de brechas e rachaduras processuais nas quais se insiram oportunidades de superação. Ao mesmo tempo, clamamos pela crítica abrangente às ações arquitetônicas na sociedade, especialmente através da construção de bases estruturais e espaciais que em sua gênese intelectual, concretização e utilização permitam aos sujeitos a realização de sua autonomia.
Não é tarefa fácil, mas caminhando perguntamos.

REFERÊNCIAS E NOTAS:
1. Para uma avaliação profunda do tema do valor, sugiro JAPPE, Anselm. As Aventuras da Mercadoria: Para uma Nova Crítica do Valor. Lisboa: Antígona, 2006. Como alternativa online, os grupos Krisis (http://www.krisis.org/) e Exit (http://www.exit-online.org/), ambos em Alemão e, com certo vício de origem, grupo Fim da Linha (http://www.fimdalinha.1br.net).
2. WIGLEY, Mark. New Babylon. The Hyper-architecture of Desire. Uitgeverij: Ed. 010, janeiro de 1998. Citado em http://members.chello.nl/j.seegers1/situationist/constant.html, visitado em 02de setembro de 2008.
3. BUCHLOH, Benjamin. A Conversation with Constant. Nova Iorque, 30 de outubro de 1999 in WIGLEY, Mark (ed.). The activist drawing retracing situationist architectures from Constant's New Babylon to beyond. Nova Iorque: The Drawing Center, 2001, pag. 15-25.
4. DEBORD, Guy. Crítica ao Urbanismo in JAQUES, Paola Bernstein Jaques (org.). Apologia da Deriva: Escritos Situacionistas sobre a Cidade. Rio de Janeiro: Ed. Casa da Palavra, 2003.
5. VIDLER, Anthony.Diagrams of Utopia. in WIGLEY, Mark (ed.). The activist drawing retracing situationist architectures from Constant's New Babylon to beyond. Nova Iorque: The Drawing Center, 2001, pag. 83-91.
6. Em inglês no original: “not to be found guilty of administering confort and illusion”. ADORNO, Theodor, Aesthetic Theory. Londres: Routledge and Kegan, 1986. Citado em WIGLEY, Mark (ed.). The activist drawing retracing situationist architectures from Constant's New Babylon to beyond. Nova Iorque: The Drawing Center, 2001, pag. 91.
7. Cujo significado não está totalmente presente, mas está por ser descoberto, interpretado, no sentido da definição de Deleuze para diagrama.
8. KOOLHAAS, Rem cit. In CORTES, Juan Antonio in El Croquis n°131/132: OMA AMO 1996-2003. Barcelona: El Croquis Editorial, 2007.
9. Idem.
10.
Sugiro enfaticamente a leitura deste capítulo, Bigness, or the Problem of Large em KOOLHAAS, Rem e MAU, Bruce. S, M, L, XL. Nova Iorque: The Monaceli Press, 1995. Pags. 494 a 517.
11. idem.
12. KOOLHAAS, Rem e MAU, Bruce. S, M, L, XL. Nova Iorque: The Monaceli Press, 1995. Pag. 582.
13. KOOLHAAS, Rem e MAU, Bruce. S, M, L, XL. Nova Iorque: The Monaceli Press, 1995. Pag. 604.
14. Para esta crítica a prática arquitetônica, sugiro ARANTES, Pedro Fiori. Arquitetura Nova: Sérgio Ferro, Flávio Império e Rodrigo Lefèvre, de Artigas aos Mutirões. Sâo Paulo: Editora 34, 2002.

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Porquês do telhado verde no meio urbano

1. Redução de superfícies pavimentadas: Devido ao excesso de superfícies impermeabilizadas nas zonas urbanas surgem conseqüências na qualidade na água que bebemos por causa da captação, na qualidade do ar e no micro-clima. Surgem ilhas de calor, mudança na direção de ventos, redemoinhos de pó que levam a sujeira para dentro dos ambientes, e para a atmosfera, etc. Com telhados verdes e redução de área pavimentada aumenta-se as superfícies verdes , o que auxilia no controle das consequências da urbanização.

2. Limpeza do ar (produção de oxigênio e captura do CO² e do pó): Como todos os vegetais, os que estão sobre os telhados capturam CO² e liberam O². Enquanto as folhas sobre o telhado crescem elas fazem fotossíntese e, se há um equilíbrio de crescimento/morte, sempre se estará extraindo CO² do ambiente e repondo O². As plantas filtram o ar, quer dizer retiram as partículas de pó que se prendem na grande superfície de folhas gerada por um capim nativo sobre um telhado. Logo este pó é lavado pela chuva e volta ao solo. As plantas ainda podem absorver partículas nocivas de gás e aerossóis. Pesquisas de Bartfelder demonstram que as plantas podem, inclusive, retirar metais pesados do ar. Medições sobre uma rua suíça deram como resultado que um arbusto de 1m de altura por 0,75m de largura reduz, através do efeito de filtragem, em 50% a contaminação por chumbo da vegetação que está logo atrás dele.


3. Redução dos redemoinhos de pó: O aquecimento de superfícies pavimentadas produz um movimento de ar ascendente que pode alcançar 0,5m/s, levando partículas variadas. Isto faz com que o colchão de pó das ruas, casas, praças, pátios sejam impulsionadas para a atmosfera e se formem camadas de gases, fumaça e poeira sobre as cidades. Mediante telhados ajardinados se pode reduzir este movimento de ar porque sobre os colchões de pasto não se forma nenhuma “térmica”, já que a temperatura abaixo do pasto é constantemente inferior à do ar.


4. Regulação da temperatura: A planta extrai calor do ambiente pela evaporação, fotossíntese e pela capacidade de armazenar calor de sua própria água. Este efeito se faz perceptível nos dias mais quentes de verão.Com a evaporação de 1l de água são consumidos quase 2,2 MJ (530Kcal) de energia. A condensação do vapor forma nuvens, nas quais a mesma quantidade de energia é liberada novamente. Portanto as plantas podem reduzir as oscilações de temperatura. Um telhado verde em Kassel (Alemanha), com um substrato de 16cm de espessura para uma temperatura externa de 30°C, havia abaixo da vegetação apenas 23°C e abaixo do substrato apenas 17,5°C. Quer dizer que, apelos mesmos motivos, possui um efeito de isolante térmico para a edificação. Possuem, evidentemente, propriedades de isolamento acústico completo para a edificação e de ondas de alta freqüência para o entorno, o que nas cidades é bastante relevante.


5. Proteção contra incêndio: Os telhados verdes oferecem uma proteção ideal para telhados expostos a chamas. Na Alemanha eles são considerados “incombustíveis” e classificados como fechamentos superiores pesados.


6. Capacidade de retenção de água: Um telhado com 20 cm de substrato de terra e argila expandida pode reter 90mm de água (90l/m²), diminuindo a carga dos pluviais urbanos. O coeficiente de deságüe de águas pluviais para estas superfícies com um mínimo de 10cm de substrato é de 0,3. Quer dizer que somente 30% da chuva vai diretamente para os pluviais, 70% fica retida ou se evapora. Num teto verde com 12° de inclinação e 14 cm de substrato, depois de uma forte chuva de 18h, pode-se cronometrar um atraso de 12h de deságüe pluvial. Neste caso foram para o pluvial apenas 28,5% de toda a chuva.


Além de todos estes efeitos benéficos para a edificação e para a cidade, um telhado verde bem feito tem uma vida útil indefinida, muito longa, além de ser espaço vital para insetos, proporcionar aromas e criar uma paisagem urbana mais agradável com cores diferentes do cinzento urbano.

Quatro detalhes de telhado verde (clique para ampliar)


Para mais informações ver:

Minke, Gernot. Techos verdes: planificación, ejecución, consejos práticos. Editorial Fin de Siglo. Montevideo, Uy.


terça-feira, 26 de agosto de 2008

Territorios en resistencia

Cartografía política de las periferias urbanas latinoamericanas
Raúl Zibechi (lavaca editora– 2008)

Introducción
En los últimos veinte años tuve la posibilidad de visitar múltiples rincones de América Latina, donde los de abajo se empeñan en convertir sus iniciativas colectivas para la sobrevivencia en espacios para resistir el sistema hegemónico. Pude conocer algunas experiencias notables, compartir con las y los actores sobre los modos y formas de construir sus vidas cotidianas, y luego ampliar lo allí convivido a través de abundante bibliografía.
Lo que aprendí junto a esos colectivos me reafirmó en la convicción de que en América Latina, al calor de las resistencias de los de abajo, se han ido conformando “territorios otros”, diferentes a los del capital y las multinacionales, que nacen, crecen y se expanden en múltiples espacios de nuestras sociedades. Puede objetarse que las formas de construcción de los movimientos indígenas en áreas donde habitan desde hace siglos, no deben compararse con las experiencias urbanas de los sectores populares. Las diferencias entre unos y otros son inocultables, empezando por el simple hecho de que la presencia estatal en esos lugares es débil, lo que facilita la existencia de formas de vida heterogéneas. Pero tampoco podemos dejar de lado, que las experiencias de esos sectores a menudo se entrelazan y que en no pocas ocasiones tienden a tomar camino, si no idénticos, por lo menos similares.

(...)

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Cidades à beira do colapso

O Diplô do mês de agosto vem assim (ainda não tá online):

Cidades à beira do Colapso - as razões da crise metropolitana

1. Quem pode fazer?
2. A dinâmica da degringolada
3. Quando a água bate no peito
4. "precisamos plantar a semente da mudança"

5. A lógica da desordem - Raquel Rolnik

6. O desafio das metrópoles - Luiz Cézar Queiroz Ribeiro

7. Utopias tecnocráticas - Akram Belkaid

8. Propostas para um futuro melhor - Movimento Nossa São Paulo

9. A cruzada de Sarkozy
10. O bolsa família funciona?
11. Mais para quem tem
12. A 'democratização conservadora'
13. Devagar com o andor
14. Ainda muito longe da normalidade
15. Educação na redoma
16. a nuvem da informação
17. Pura especulação

18. Cortázar, o mágico - Guy Scarpetta

19. Profetisa conservadora
20. Livros

Dentre os temas recorrentes nos artigos estão a 'crise das cidades', a 'crise financeira especulativa', a 'sociabilidade pela violência' e as ameaças de 'inclusão social' e 'emprego' e/ou 'trabalho' para todos.

Aproveitem, está realmente boa!

domingo, 24 de agosto de 2008

Glenn Murcutt: "La sustentabilidad es una frase hecha"

http://www.lanacion.com.ar/nota.asp?nota_id=1041299

"Todo es naturaleza, nosotros lo somos y sería disparatado construir de una forma ajena a nosotros."

"Si uno hace algo que realmente le gusta es porque eso está dentro de uno. Es muy diferente de hacer copias esclavizantes; es entender los principios y ser capaz, al ver algo, de exclamar "lo entiendo", en lugar de "me gusta". Estas son las verdaderas influencias."

"La naturaleza es una cosa y la edificación es otra. Ambas deben dialogar, articularse, pero nunca fusionarse ya que la fusión es artificial. Se debe respetar y adaptar el entorno en función del hombre y sus necesidades, y así los edificios no pierden su personalidad, como muchos creen, sino que la ganan en el paisaje, el entorno, ya que cada elemento resalta su propio carácter."

"La mayoría de la arquitectura llamada ecológica es horrible, y esto ocurre porque no está integrada verdaderamente la ecología al pensamiento del que construye, y de ecoarquitectura solamente lleva el nombre."

"...la cultura son cientos de capas de años que se encuentran detrás de uno, y este concepto me sirvió para entender mi propia cultura. Así que nunca puedo decir cómo debe diseñar un arquitecto australiano o argentino en su tierra ya que debo interesarme en qué puedo lograr yo con la arquitectura en la cultura, tecnología y medio ambiente que encuentro;"

sábado, 23 de agosto de 2008

No caminho da sustentabilidade


“Menos justificável é a persistência de diretrizes tecnológicas que ignoram os ecossistemas em suas concepções, impondo um fluxo interminável de necessidades e intervenções que se traduzem em gastos crescentes de energia e capital, num processo onde a sustentabilidade é extremamente questionável.”



Será que chegaremos a superar um momento histórico tão assustador quanto o nosso? Este tema clama sua dimensão subjetiva mais que qualquer outro. Na arquitetura esta temática é tratada de forma razoável em termos de "sustentabilidade".


Neste contexto, um livrinho no qual tropecei ha pouco me fez entender um pouco mais sobre esta dimensão estética, simbólica e técnica (intimimamente ligada a tecnologia) da “ciência”. O que parece é que a ciência, que se pretende neutra através de discursos, é, principalmente hoje, completamente ideológica. Esta ideologia científica e a dominação tecnológica trabalham no campo simbólico da repressão de tudo quanto não “faça sentido” para ela e acaba com conhecimentos muito mais profundos do que ela sequer pretende admitir que existam. Mas o que não faz sentido para a ciência hoje? O que não faz sentido são as questões que tratam justamente da superação de tal momento histórico.


Bueno, chega de papo, transcrevo alguns trechos deste livro.


IVAN, J.L. 1995 (2º edição) - Pomar ou Floresta: princípios para manejo de agroecossistemas. Rio de Janeiro, RJ AS-PTA/Ipê, RS- Centro de Agricultura Ecológica-Ipê. 96 pp.



Comentários sobre o método científico

Os indígenas, há milhares de anos, observam a natureza, intuem, deduzem e experimentam, construindo seu saber.


É significativo que a classificação de plantas, insetos e outros animais feita por eles se baseie em características comportamentais, utilitárias, sensoriais, etc. O ser vivo é analisado como tal dentro de inter-relações do ecossistema.


Gato sofrendo vivisecção


Já a ciência ocidental classifica através do isolamento, da vivisseção e da análise fragmentada. A própria ecologia é uma ciência recente e ainda bastante influenciada pelo espírito cartesiano da biologia do século XIX. Mesmo após anos de estudo e experiências de campo, um etmologista gabaritado precisa matar uma abelha para identificá-la com auxílio de equipamentos ópticos. Um índio caiapó, com 12 anos de idade, irá classificá-la pelo zumbido de seu vôo, pela maneira como entra na colméia, , pelo ritual de vôo antes de entrar e, como recurso final, pelo cheiro que exala ao ser esmagada e pelos seus caracteres morfológicos. A morte, a priori, não só é desnecessária como elimina as possibilidades de uma perfeita identificação. Este processo de compreensão dos ecossistemas tornou-se possível através da transmissão oral dos conhecimentos, de geração para geração, durante milhares de anos, em sociedades onde viver é sinônimo de aprender.


Portanto é compreensível que, com menos de 200 anos nos trópicos e subtrópicos, a agricultura desenvolvida pelos imigrantes europeus no Brasil apresente tantos equívocos em relação ao manejo dos ecossistemas nativos.


Menos justificável é a persistência de diretrizes tecnológicas que ignoram os ecossistemas em suas concepções, impondo um fluxo interminável de necessidades e intervenções que se traduzem em gastos crescentes de energia e capital, num processo onde a sustentabilidade é extremamente questionável.


Assim dois pontos são fundamentais para basear nosso trabalho: primeiro, o saber local é importante, mas deve ser contextualizado dentro de uma perspectiva histórica. Num país como o Brasil, o pequeno agricultor do sul tem menos de 200 anos de convivência com os ecossistemas e o conhecimento indígena foi praticamente dizimado. (...).


Na medida em que a ciência avança, inclusive na sua própria epistemologia, ou seja, quando suas próprias bases são renovadas no sentido do holismo, a compreensão dos fenômenos naturais não ocorre mais de forma reducionista e compartimentada. Neste ponto começam a surgir infinitas possibilidades para a convivência humana. É o momento para o reconhecimento do homem como parte da teia da vida, não como centro ou criador. (...).


“Os animais se dividem em* (segundo uma enciclopédia chinesa):

  • Pertencentes ao imperador;
  • Embalsamados;
  • Leitões;
  • Sereias;
  • Fabulosos;
  • Cães em liberdade;
  • Incluídos na presente classificação;
  • Que se agitam como loucos;
  • Inumeráveis;
  • Desenhados com um pincel muito fino de pelo de camelo;
  • ET Cetera;
  • Que acabam de quebrar a bilha;
  • Que de longe parecem moscas.”


A incapacidade de reconhecer uma nova ordem que não seja a nossa traz consigo uma estrutura científica legada pelo autoritarismo e que não consegue ver a vida como um eterno pulsar de possibilidades.


(...)


Uma crítica radical aos pressupostos da metodologia científica demonstra, com evidências inequívocas, a importância da ruptura com o sistema de princípios firmes, imutáveis e absolutos. Paul Feierabend considera que: “A coerência, por força da qual se exige que as hipóteses novas se ajustem às teorias aceitas é desarrazoada, pois preserva a teoria mais antiga e não a melhor.” Uma comparação científica entre duas teorias só é possível quando for observado o contexto daquela que está sendo testada.


* FOUCAULT, Michel. As Palavras e as Coisas: uma arqueologia das ciências humanas


quinta-feira, 14 de agosto de 2008

trilha sonora

pros arquitetos e arquitetas se renovarem sonoramente, dois blogs sonoros aqui do Brasil:


terça-feira, 12 de agosto de 2008

Medellin-Porto Alegre - intercâmbio de espetáculos

Em seu artigo na coluna Minha Cidade n°228 do portal Vitruvius, o sr. Benjamín Barney Caldas fala com muita propriedade enquanto critica a realização e a premiação de objetos arquitetônicos produzidos de/para elites econômico-políticas que há muito se perpetuam através da própria escrita da história cultural dos países da América Latina.
Afora a cultura popular carregada do primitivismo fundacional das mesclas étnicas e culturais que formaram as populações latino-americanas, nossa produção cultural e histórica se mostra principalmente através dos grandes gestos dos "conquistadores" que buscam marcar momentos no tempo de acordo com seus ideais de sociedade. Nesse contexto, o próprio reistro da arquitetura culta torna-se o registro da arquitetura dos reis, dos industriais e mais recentemente dos banqueiros e financistas. Suponho que para estes grupos, tratar de patrimônio ou cultura é um pouco como lidar com uma Caixa de Pandora, onde - por não saber da potência de seu conteúdo - tateiam as cegas e com certo pudor a busca de obras que transmitam seus valores a posteridade.
O Espetáulo referido está presente também muito fortemente no sul do Brasil - onde vivo e de onde posso testemunhar - havendo tomado conta não só das grandes obras arquitetônicas, mas também do próprio processo de projeto mesmo na esfera pública. A necessidade de executar, concretizar suas marcas de dominação faz com que grandes industriais e políticos busquem dominar o processo de produção projetual pela lógica do job, como diria Adorno: eficiência e uma certa gratificação a sociedade (quando comparada a a pauperização de toda a arquitetura e da cultura). A humiljhação objetivada na obra de um Museu, Fundação ou Biblioteca que seja é tomada como grande obra pois é sui generes em escala, tem programa "inovador" e solução arquitetônica suficientemente agressiva para causar o "debate" dos gostos, dessa forma desviando-se de qualquer questionamento quanto a sua função pública ou urbana.
No caso de Medellín, fica claro que o causuismo das escolhas do lugar chega a criar absurdos de contraste como aparenta através de suas imagens e como vemos em diversos outros locais no globo que de uma maneira manca provavelmente buscam um "efeito Bilbao" sem compreender, entretanto, os pormenores processuais envolvidos neste ultimo caso - questionáveis desde seus princípios por sua vez.
Aparenta que após a falência da construção moderna das cidades ideais, os arquitetos voltam-se, através de um tratamento objetual da arquitetura, para a inserção de obras icônicas, quasi-totêmicas, em contextos contrastantes: saliento aqui projetos como a Casa da Música do RJ de Portzamparc na Barra da Tijuca, o próprio MACBA de Richard Meier e a Fundação Iberê Camargo de Álvaro Siza, entre outros. Destes, tive oportunidade de vivenciar de perto os dois últimos em momentos diametralmente divergentes: o primeiro na sua "corrupção" através da apropriação do seus espaços abertos pela população; skatistas tomaram de assalto as brancas rampas e amplas escadarias do acesso principal, grafitaram seu contexto e, apesar da arquitetura, efetivamente adotaram o lugar como urbano. No segundo, no momento de sua inauguração, mostrou-se perfeito, encerrado em sí mesmo, anti-urbano e até mesmo anti-público: carente de serviços de acesso irrestrito e que promovam a fruição des-interessada do espaço arqutietônico, apenas propondo internships de artistas emergentes em comunicação constante com outras instituições internacionais do mundom das artes, mas carente e destinado a não ter apropriação como espaço público - por ter ajudado a promover indireta e inocentemente a privatização brutal de seu entorno com a construção de 2 novos shopping-centers de escala metropolitana e por seu próprio caráter de espaço de "fruição" (espectação por assim dizer) da Arte.

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Habitat no social

Fazendo um passeio pela WWW em busca de soluções de habitação encontrei algumas coisas interessantes:
blog "Habitação social-urbanismo":
vitruvius com os Prêmios Caixa-IAB: 2001, 2004, 2006

outros do Vitruvius: Concurso HabitaSampa , Habitação Popular no Amazonas

Buenas, por enquanto era isso! Depois comento.
abraços

terça-feira, 15 de julho de 2008

Michael Sorkin - A Vanguarda nos tempos de Guerra

Como seus pares civis, os planejadores militares são especialistas em zoneamento. Depois da primeira noite de “terror e pânico”1 no Iraque em 20 de março de 2003, os norte-americanos foram introduzidos em um bairro de mal, uma concentração contínua da arquitetura do regime de Saddam, uma área de escuridão, precisamente demarcada por uma linha vermelha para tornar-se um caldeirão pirotécnico, pronta para a aproximação desde o telhado dos Hotéis Al Rashid ou Palestine. Pontos no mapa sugerem que administramos a correta dose corretiva quando necessária. Ao tornar patológico antecipadamente tudo que atingimos, o sonoro problema do dano colateral foi tornado óbvio: somente renovação urbana. Realmente, de acordo com matéria de Daryl G. Oress em 26 de março de 2003 no jornal New York Times, Baghdad era particularmente bem projetada para invasão. Carecendo de edifícios altos e cortada – ao contrário de Grozny e Mogadishu – por amplos boulevares, o terreno da cidade não era, como Press escreve laconicamente, “ideal para defesa urbana”.
Havia algo de revelador na coincidência do planejamento final no Ground Zero com a violenta limpeza do local e a prometida reconstrução no Iraque. Mesmo antes da guerra, o Times publicou que a administração havia convidado Bachtel, Fluor, Halliburton, Parsons, Washington (sucessor a Morrison-Kudson), e o grupo Berger para realizarem lances de bilhões de dólares em projetos via um processo expedito. “ Bechtel ficará orgulhosa de reconstruir o Iraque”, um porta-voz foi visto dizendo e certamente eles ficariam orgulhosos de ter um pouco da ação no centro de Nova Iorque também. O Iraque necessitariasua própria corporação de desenvolvimento e a administração sugeriu que estes contratos fossem supervisionados por uma “autoridade interina” (sombras da Corporação de Desenvolvimento da Baixa Manhattan e da Autoridade Portuária2) , que responderia somente aos seus superiores. Guerra começa como a extensão do planejamento por outros meios.
Nossa própria resposta como arquitetos foi pouco inspiradora. A voz política da arquitetura fala muitas linguas e não há razão para assumir que nossas visões – sem mencionar nossos estilos de expressão – devam ser uniformes. Ao contrário, a liberdade (e seu produto a diferença) é o repúdio da univocalidade. Ao mesmo tempo, esta latitude expressiva não significa o relativismo infinito, no qual a defesa do princípio é tornada inerte pela idéia de tolerância que reduz as relações socias a uma selva Hobbesiana de puro oportunismo e vale-tudo. Em particular, olhamos para nossa vanguarda como uma resposta ao poder para nossos próprios alvos de oportunidade. A vanguarda sempre carrega a idéia política da derrubada do status quo. Para escapar o simples nihilismo, no entanto, deve haver alguma visão integral do bem, mesmo que em forma obscura no momento presente. Infelizmente, nossas resposta a destruição da cidade pela globalização neoliberal ou pela guerra neo-colonial produziu pouca especulação construtiva sobre o futuro do urbanismo. Ao vermos o desastre iminente, muitos de nossos melhores simplesmente abraçaram-no: arquitetos em demasia têm tornado-se proponentes do inchaço das cidades3 e da mentalidade da solução-padrão4 que estrangulam a terra.
Mas que idéias da boa cidade valem realmente defender? E como a vanguarda arquitetônica pode usar sua quiver de inovação e transgressão para defende-las?Para mim, a cidade confronta quatro desafios principais na realização de seu futuro, das quais todas têm implicações formais.A primeira delas é a sustentabilidade, a idéia de que números e recursos têm que ser equilibrados de maneira a conservar e melhorar a saúde tanto das cidades quanto do planeta. A segunda questão é acesso. Isto traz tando tanto a justa distribuição global de recursos e a liberdade na cidade que é um direito fundamental da cidadania urbana. O terceiro é a privacidade ante a multiplicação de técnicas de vigilância e manipulação que nos prevêm de formar e manter livremente nosso sentido de subjetividade. Finalmente, as valiosas ecologias cultural e físicas devem ser preservadas. Nenhuma forma inteligente de urbanismo pode se omitir ante a defesa de seu sucesso histórico.
Em um planeta que se urbaniza exponencialmente, a cosntrução de cidades novas e sustentáveis é uma necessidade urgente e ainda não nos colocamos a altura do desafio. Dada a luta entre os objetivos que listei e as pressões de uma globalização sem limites e a militarização da cultura, os desafios estão tanto em construir estas cidades quanto em achar os meios para expressar a individualidade. Nem as visões nostálgicas nem as depredações do planejamento através da visão inefável do mercado serão suficientes: não são apenas as bombas que obliteram. Este assalto põe a prêmio a invenção artística, a criação de objetos singulares que sejam sustentáveis maleáveis e belos. É aqui que a vanguarda engajada torna-se mais crucial que nunca.
Se a vanguarda terá uma importância além da indulgência é tempo de excesso e é tempo de conversas direta para a rendição da ironia e da inteligência que salta aos olhos a torrente de demandas por um mundo melhor. A estratégia de vanguarda depende sempre demais em alguma forma bem-intencionada de mau comportamento, em borrar velhas certezas. Mas o totalitarismo atropela as ambiguidades todo o tempo.Guerra é o mau comportamento máximo e os espertos políticos no controle da carnificina do Iraque – ao apresentar-se constantemente como vanguarda (inventores da “revolução dos assuntos militares” e pioneiros dos “novos campos de batalha”) – tentam suplantar sua própria selvageria ao dar forma renovada a ela. Temos que fazer melhor que isso. O que é necessário são propostas claras na escala dos globalizadores, cidades inteiras imaginadas do zero, grandes blocos de realidades alternativas. Contra a estética da alienação e aniquilação temos que responder com formas novas de sobrevivência e alegria. A Arquitetura tem que ir ao campo de batalha.

notas:
1 shock and awe no original, nota do tradutor
2 Lower Manhattan Development Corporation e Port Authority no original, N.T.
3 Sprawl no original, N.T.
4 One-size-fits-all no original, N.T.

texto extraído do livro The State of Architecture at the Beggining of the 21st Century, TSCHUMI, Bernard et CHANG, Irene (editores). The Monacelli Press, Nova Iorque: 2003.

sexta-feira, 30 de maio de 2008

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Posturas para a arquitetura de interesse social (cont.)

Nesta noite, estive em mais uma instância pública local de promoção da habitação de interesse social quei o Fórum de Habitação da Região Leste.

Marcou a presença de poucos delegados do Orçamento Participativo (O.P.)– aproximadamente um por instituição – e a quase que total ausência de conselheiros. Apesar disto, a discussões foram bastante frutíferas.

Colocou-se em pauta reinvindicações de Planos de Investimento do O.P. tão antigos quanto de 1998 e por críticas muito duras ao Departamento Municipal de Habitação a prefeitura municipal, especialmente em relação a dois pontos: não cumprimento de promessas e burocracia. Estas questões gerais, no entanto, foram apenas repetições de outras demandas já demonstradas em outras ocasiões, como nas reuniões de preparação para a formulação do Plano Municipal de Habitação de Interesse Social em março deste ano.

As novidades foram na vontade de o conselheiro do O.P. Nelson propôr a criação de uma Comissão de Habitação, resposável por levar adiante discussões focadas na resolução dos problemas das comunidades e, especialmente, no planejamento e estruturação das ações futuras.

Dentro deste contexto, se citou a existência de diversas instâncias de financiamento e de possibilidades de projetos por parte das próprias comunidades, como através do Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social. O que fica claro, no entanto, é que há um incrivel aumento na demanda de profissionalização das propostas e planos para se acessar os financiamentos, principalmente aqueles em editais federais. Estas sistuações junto com a necessidade de participação e deliberação em fóruns de planejamento, conselhor de desenvolvimento e outras instâncias nas quais foram conquistadas a voz e o voto pelas comunidades não facilitam em nada o preparo para a efetiva participação de pessoas que, em sua maioria, não têm formação técnica nem educação formal e portanto, lidam com as questões do urbano de maneira muito próprias de sua vivência, de suas experiências.

Algumas dessas maneiras são muito sábias e interessantes, mas outras são superficiais e adicionam pouco para as decisões. De qualquer maneira, são legítimas enquanto representarem suas comunidades e isso tem de ser visto como uma vitória do empoderamento e através da democracia das comunidades de Porto Alegre.

Estes processos de participação e a flexibilização dos financiamentos federais, no entando, pouco mudaram as condições de acesso ao saber técnico e profissional para a elaboração das formalíssimas cartas-convite dos editais ou dos detalhados planos necessários para se trabalhar em comunidades. As comunidades poderiam, muito mais legitimamente inclusive, promover por sí próprias as mudanças que vêem necessárias, mas para isso precisam compor equipes de projeto capacitadas e empenhadas para resolver as complexas condições que visam melhorar.

Os técnicos, por sua vez, também pouco mostram-se inclinados a abraçar estas atividades. Razões de sustentação econômica, lucro e as possibilidades do mercado os atraem mesmo que seja para serem os piores de sua classe nesse mercado saturado, injusto e pouco valorizado que é o de projetos urbanos e arquitetônicos. De minha parte, admito que não tenho a segurança de um contrato fixo, encargos sociais em dia, mas estas são flexibilidades temporárias – assim espero - enquanto não achamos a maneira correta de desenvolver as atividades profissionalmente de maneira a sutentar-nos, inclusive em nossos luxos pequeno-burgueses. Sei, no entanto, que estas questões ao menos atualmente são irrelevantes frente a liberdade com a qual desenvolvo meu trabalho, com as relações que desenvolvo com as pessoas da comunidade e de fora.

Sinto que há um gigantesco potencial de atuação de arquitetos diretamente nas comunidades para diversos fins, infra-estrutura, habitacão, planejamento de longo prazo, etc. Falta que achemos condições de financiamento para estas atividades e que nos preparemos para isso.

Continuarei em breve.