Em seu artigo na coluna Minha Cidade n°228 do portal Vitruvius, o sr. Benjamín Barney Caldas fala com muita propriedade enquanto critica a realização e a premiação de objetos arquitetônicos produzidos de/para elites econômico-políticas que há muito se perpetuam através da própria escrita da história cultural dos países da América Latina.
Afora a cultura popular carregada do primitivismo fundacional das mesclas étnicas e culturais que formaram as populações latino-americanas, nossa produção cultural e histórica se mostra principalmente através dos grandes gestos dos "conquistadores" que buscam marcar momentos no tempo de acordo com seus ideais de sociedade. Nesse contexto, o próprio reistro da arquitetura culta torna-se o registro da arquitetura dos reis, dos industriais e mais recentemente dos banqueiros e financistas. Suponho que para estes grupos, tratar de patrimônio ou cultura é um pouco como lidar com uma Caixa de Pandora, onde - por não saber da potência de seu conteúdo - tateiam as cegas e com certo pudor a busca de obras que transmitam seus valores a posteridade.
O Espetáulo referido está presente também muito fortemente no sul do Brasil - onde vivo e de onde posso testemunhar - havendo tomado conta não só das grandes obras arquitetônicas, mas também do próprio processo de projeto mesmo na esfera pública. A necessidade de executar, concretizar suas marcas de dominação faz com que grandes industriais e políticos busquem dominar o processo de produção projetual pela lógica do job, como diria Adorno: eficiência e uma certa gratificação a sociedade (quando comparada a a pauperização de toda a arquitetura e da cultura). A humiljhação objetivada na obra de um Museu, Fundação ou Biblioteca que seja é tomada como grande obra pois é sui generes em escala, tem programa "inovador" e solução arquitetônica suficientemente agressiva para causar o "debate" dos gostos, dessa forma desviando-se de qualquer questionamento quanto a sua função pública ou urbana.
No caso de Medellín, fica claro que o causuismo das escolhas do lugar chega a criar absurdos de contraste como aparenta através de suas imagens e como vemos em diversos outros locais no globo que de uma maneira manca provavelmente buscam um "efeito Bilbao" sem compreender, entretanto, os pormenores processuais envolvidos neste ultimo caso - questionáveis desde seus princípios por sua vez.
Aparenta que após a falência da construção moderna das cidades ideais, os arquitetos voltam-se, através de um tratamento objetual da arquitetura, para a inserção de obras icônicas, quasi-totêmicas, em contextos contrastantes: saliento aqui projetos como a Casa da Música do RJ de Portzamparc na Barra da Tijuca, o próprio MACBA de Richard Meier e a Fundação Iberê Camargo de Álvaro Siza, entre outros. Destes, tive oportunidade de vivenciar de perto os dois últimos em momentos diametralmente divergentes: o primeiro na sua "corrupção" através da apropriação do seus espaços abertos pela população; skatistas tomaram de assalto as brancas rampas e amplas escadarias do acesso principal, grafitaram seu contexto e, apesar da arquitetura, efetivamente adotaram o lugar como urbano. No segundo, no momento de sua inauguração, mostrou-se perfeito, encerrado em sí mesmo, anti-urbano e até mesmo anti-público: carente de serviços de acesso irrestrito e que promovam a fruição des-interessada do espaço arqutietônico, apenas propondo internships de artistas emergentes em comunicação constante com outras instituições internacionais do mundom das artes, mas carente e destinado a não ter apropriação como espaço público - por ter ajudado a promover indireta e inocentemente a privatização brutal de seu entorno com a construção de 2 novos shopping-centers de escala metropolitana e por seu próprio caráter de espaço de "fruição" (espectação por assim dizer) da Arte.
terça-feira, 12 de agosto de 2008
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6 comentários:
é uma pena que seja uma crítica meio estranha esta do sr. Benjamín, parece problema pessoal, heheheh. No fim ele age na mesma lógica de quem critica e dá a linha: "A arquitetura segue sendo a concepção poética, técnica e econômica de ambientes úteis e íntimos para a vida. Que se vêem, escutam, tocam, cheiram e sentem, em espaços interiores que são sua essência, e que emocionam ao recorrê-los (Bruno Zevi: Architectura in nuce, 1964), mas que se modelam para definir espaços urbanos, discretos ou monumentais segundo demande cada caso. E hoje devem ser sustentáveis, funcionais, confortáveis, seguros e recicláveis." Ou seja, esqueceu de falar de uma coisa q engloba todas estas e mais um universo de outras, que seria - profundamente ligada ao lugar e à situação da realidade local -, situação na qual não é possível dizer "arquitetura é" (isto ou aquele outro)!!!
Porque no final todos querem uma teoria conveniente q afirme a lógica das estrelinhas de arquitetura, coisa esta q esconde uma vontade reprimida (disso parece vir a crítica do srenhor este) de também ser uma estrelinha da arquitetura, nem que seja no modelo Montaner, de crítico.
Pode bem ser o caso de ser a estrela do lado de lá, mas por outro lado é a própria condição de fazer alguma crítica dentro de uma sociedade alienada... não importa o quanto tu corra, uma hora o alien te pega heheheh
É como disse Charles Jencks em Iconic Building: a paranóia e a controvérsia fazem parte do fenomeno do edifício icônico e do almejado 'bilbao effect'.
só para completar, outro comentário do Jencks:
Critical hypocrisy, we will find, is flushed out by the icon.
Pois sim, fazem parte do estranhamento, fazem a base necessária para o destaque. Mas creio que o que se fala aqui seja de outro estranhamento, que é o da contradição entre aquele que produz e sua capacidade de decisão acerca do que produz.
Os modelos Bilbao, me entendam bem, tem sua função na cadeia alimentar da arquitetura. A questão posta, acredito, é a da cultura como potencializadora de desenvolvimento dos povos ou como ferramenta de disseminação de mensagem. A arquitetura dos reis, ou arquitetura da sociedade. Aqui faço questão de não deixar dúvidas ao dizer que sociedade não é somente o povo rude, povo trabalhador, povo humilde. Claro que respeitará sua dignidade, mas não se apequenará na ditadura da pobreza, da pauperização intelectual em nome da defesa da igualdade.
Ao contrário! Vejo como somente possível a defesa da igualdade através da vitória sobre o maior desafio intelectual já posto para nossa civilização: lidar consigo e com outros de modo igual.
As obras em questão têm, sem excessão, qualidades plásticas refinadas, de deleite ao sentidos. São claramente obras-primas de seu tempo e de seus projetistas e construtores.
O que se coloca em pauta aqui é justamente o caminho escolhido para se chegar a arquitetura e seu próprio entendimento enquanto ciência por um lado e enquanto morte da construção autônoma da cidade por outro.
Espero estar contribuindo, agora empiricamente para o debate. Vejamos!
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