quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

No rastro de Sérgio Ferro - Resenha 04


A produção da casa no Brasil (1969)

Texto nascido de anotações de aula na FAUUSP 1968/69. Primeiro esboço de “O canteiro e o desenho”. Foi publicado pelo GFAU em 1972 com o nome de “A casa popular”. O texto foi revisto e rebatizado por Sérgio ferro em 2005.


É neste texto que Sergio Ferro começa um “deslocamento progressivo da perspectiva crítica”, mudando a centralidade de seu objeto de preocupação da moradia para a “economia política da construção”. Valendo-se do método de pesquisa utilizado por Marx e exposto no prefácio de “O Capital”, começa a partir da análise e contextualização da práxis até chegar à “mercadoria”, do particular ao universal, encontrando, no final, a arquitetura em “forma-mercadoria”. Este texto, pela primeira vez, evidencia de forma efetiva o canteiro de obras, parafraseando Roberto Schwartz, como um lugar fora das idéias, um local invisível aos reprodutores do “ideário dominante”, que, por sua vez, movem-se pelas idéias fora do lugar da transformação.


Aqui é abordada de forma especial o problema da moradia no Brasil, tema levado a cabo somente neste texto. Sérgio argumenta que a autoconstrução contribui para a redução de salários do setor, pois abriga a baixíssimo custo à mercadoria força de trabalho, revelando um sistema inclusivo. Assim é possível manter uma baixa taxa de composição orgânica – muita mão de obra e poucos meios de produção, como máquinas, por exemplo. Assim Sérgio acredita que a industrialização do setor poderá ocorrer somente quando questões básicas forem resolvidas, tais como reforma agrária, pleno emprego, melhores salários, moradia, etc., porém nada garante que ocorrerá. O atraso neste setor da economia não deve ser entendido como anomalia, mas como parte coextensiva do próprio desenvolvimento desigual e combinado do capitalismo.


Este texto contém partes suprimidas de “O canteiro e o desenho”, tais como os títulos A casa popular e A mansão. O ponto de chegada deste texto é o ponto de partida de “O canteiro e o desenho”, ao qual nos dedicaremos mais a fundo na próxima resenha. “A produção da casa no Brasil” merece ser lido com bastante atenção pois contém elementos não passíveis de serem tratados sem omissão em uma resenha.

Um comentário:

R.R.Dias disse...
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