quinta-feira, 22 de maio de 2008

Posturas para a arquitetura de interesse social

Este texto vem quase como um relato das dinâmicas e posturas que estamos desenvolvendo hoje na Associação Habitacional da Vila Pinto dentro do Centro de Educação Ambiental. Como arquiteto contratado, posso diariamente refletir e praticar o tema de maneiras que tentarei descrever e de certa forma criticar abaixo.

Primeiro de tudo, a montagem de uma organização comunitária como o Centro de Educação Ambiental permite uma relação muito franca com a iniciativa privada – através da ampla rede montada ao longo dos anos por sua presidente – que não irei questionar em termos de composição ou modo de operações por duas razões. A primeira é que considero estas escolhas parte do direito de organização autônoma da instituição, que certamente é legítima, mesmo que condicione suas ações e demonstre uma certa libertinagem na captação de apoios e recursos. A segunda é que todas as relações e negociações que percebi e presenciei foram dentro dos limites da lei e, mais importante ainda, da ética, o que considero condição essencial para qualquer trabalho. Dentro dessa estrutura, não me sinto como uma vanguarda iluminada que traz o conhecimento, mas como alguém que vê a incrivel capacidade de mobilização de certas pessoas por objetivos claros e impressionantemente públicos. A melhoras das condições próprias de vida e da dignidade das pessoas da comunidade é a base de todos os objetivos que a ONG se propõe e as vantagens das posições políticas locais, dos ganhos dos financiamentos e apoios conquistados não são suficientes para justificar esse empenho. A possibilidade de toda a família Medeiros de viver exclusivamente a partir do trabalho comunitário, construir suas vidas, suas casa, etc, não é desmedida em relação ao seu trabalho diário e seu esforço constante, mas a profissionalização informal das atividades de organização comunitária.

Em seguida a esta organização, a população envolvida tem indivíduos extremamente interessados em mudar seu lugar de vida para melhor. Jurema de Deus é uma dessas e talvez a mais importante – até agora – de todas. Incansável avatar da arquitetura na Vila Pinto, batalha e organiza verdadeiramente diversas atividades, desde as mais festivas até as reuniões do Orçamento Participativo sem ganhar quase nada em troca. Aliás, pagando inclusive o preço de a todo momento estar sendo cobrada como responsável pelos serviços da prefeitura. O mesmo ocorre com outras pessoas que mostram um interesse incomum por organizar-se e tomar para sí as iniciativas, mesmo sendo eterna minoria.

Após isso, devo comentar que a contratação de um jovem profissional arquiteto na minha pessoa fortalece enormemente o desenvolvimento das iniciativas. Não por qualquer característica pessoal ou profissional ímpar que tenha, mas pelo simples fato de poder dedicar-me íntegramente a esta atividade, sem que se baseie em meu tempo livre, em estudos esporádicos e localizados. A minha dedicação exclusiva permite que eu veja, avalie e veja novamente cada impressão sobre a vida na comunidade. Além disso, permite que pequenas iniciativas da instituições sejam potencializadas pelo saber técnico, pela cultura de projeto, pelo planejamento estruturado das atividades e pela qualificação – espero eu - das construções que executam. A constância da presença permite desenvolver as questões da habitação em diversas escalas, instâncias e tentar conciliar o tempo da comunidade, com o da política local, o da política financeira nacional, das organizações civis, etc.

Comento em seguida um acontecimento marcante desta noite que leva mais adiante impressões de meses passados sobre o estado das comundidades em luta pela moradia.

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