Pra uma retomada dum assunto e resposta mui rápida duma colocação do Flip num post antigo, vou lançar 2 reportagens do ArchDaily pra falar do seguinte:
"Me parece que estes experimentos verticalizados e de solução unitária (que são um pouco diferentes dos do Constant) são bastante arrogantes. Pra entender o que quero dizer é só perguntar: como podem ser realizados? Quem poderia construir (1. quem vai levar a idéia à realidade, "designar"... sim, porque corremos este risco, e 2. quem vai trabalhar na construção) e a que custo social? Sem esquecer do custo ambiental e da característica masculina (branca, ocidental) de coisas "titanic" com o qual brinquei antes..."[Flip em futurismus].
Sobre isso, me parece bem direta a associação - e não menos interessante pacas o comentário do Flip - do modo de produção com a "macro-tipologia" [horizontal e caóticamente livre] utilizada nas obras do Constant e de Sant'Elia ou do Mies [verticais e produzida por somente um par de mãos desenhantes/designantes], por exemplo.
Um objeto qualquer pra ser produzido numa escala verticalizada tende - salvo se relevo e alguma técnica específica ajudarem - a necessitar muito mais coordenação. Principalmente pelo fato de que quase obrigatoriamente a construção será feita de baixo para cima, linearmente oganizada. Claro que a ocupação e uso disso podem ser frutos de processos muito diversos e que há estratégias potenciais para mitigar esse efeito centralizador, especialmente da concepção da obra em questão.
Já um objeto horizontalizado tem diversas formas de construir, pode ser de dentro pra fora, de fora pra dentro, do chão a cobertura, iniciar com a cobertura, etc, etc etc. Por necessitar de técnicas mais ao alcance do homem [sem contar com ferramentário específico ou maquinário] as construções mais horizontais se aproximam muito mais do homem-autônomo.
É também questão de um bom-senso [de princípio, mas não necessariamente de fim] considerar que as construções mais no chão são mais econômicas energeticamente, especialmente pela diminuição da performance exigida dos materiais e pelo uso de maquinário pra execução e produção dos insumos. Lógico que isso não se sustenta numa lógica urbana, onde ter centros concentrados pode ser muito eficiente, até um ponto ao menos.
Dessa conversa obvia e rasteiriça cheia de considerações eu abandono a retórica para lançar os tais posts do AD, abaixo duas conversas sobre uma obra do Nouvel para Nova Iorque, a "mais totalitária" e outra, com uma cara [ao menos] diversa.
[carinha faceira - Axis Mundi]
Com isso o que pretendo? Hora, dar um pouco mais de confusão nessa história. Se olharmos um pouco pra idéia de estrutura do Axis Mundi, imaginamos que seria possível gerar uma estrutura a lá Archigram que permitisse a plugagem desses módulos ou a construção paulatina dos elementos de preenchimento.
Nada de novo, mas com uma cara interessante, principalmente se confrontado com o projeto do Nouvel que é tudo da tal afirmação da "característica masculina (branca, ocidental)" de que falava Flip logo lá em cima.
Por outro lado, é justamente nessa carinha bonita que reside um cadafalso: o de que a diversidade das soluções, por sí só ou em grande parte, pode ser responsável por qualquer determinação de democratias. Pulando por cima desse discurso pós-mo de balcão, caímos na dúvida do que fazer em direção dessa arquitetura mais aberta a possibilidades e que seja principalmente fruto de um processo social de autonomia.
Acredito que seja exatamente aqui que as chamadas "macro-tipologias" lá de cima contribuem mais pra explicar o fenômeno do desígnio: um espaço que se pretenda dialógico com a sociedade na qual se insere (ou pela qual é produzido) deve ser fruto de conexões sociais espacializadas, sabendo-se capaz, também, de contribuir para socializações diferentes das existentes ou pela intensificação de certas práticas.
Nesse sentido, espaço é produto e produtor de sociedade, desde a concepção a simbologia semântica ou sintática que busque. O desenho deste espaço idealmente se converte em meta-desenho, ou na criação de ferramentas para se desenhar abertamente. De maneira defensiva, essas ferramentas tem, pelo pós-Moderno que há entre nós - sido tencionadas em direção ao não-desenho [uma vez que o Moderno era justamente o ultra-desenho].
Hoje, nos meios sociológicos, urbanístico-participativos e mesmo nos delírios ecologísticos espalhados por aí, diversas posturas processuais na arquitetura buscam diminuir o impacto da mão-projetante enquanto buscam salientar o impacto e a influência na concepção das mãos-construtoras.
Não discordo dessa postura - ao menos se for temporária e transitória para um outro estado de projetar - mas acho que é limitada, por se definir como negação de algo sem considerar a sua própria necessidade de negação [a sua superação], necessária uma vez que perca seu caráter de contestação e se transforme em afirmação de outra forma totalizante.
Se no futuro conseguirmos pensar em maneiras de trabalhar o projeto e a edificação socialmente, espero que isso se dê de maneira a incluir essa dialética da relação entre projeto e a sociedade. Enquanto isso, continuamos. Desconfiando.
"Me parece que estes experimentos verticalizados e de solução unitária (que são um pouco diferentes dos do Constant) são bastante arrogantes. Pra entender o que quero dizer é só perguntar: como podem ser realizados? Quem poderia construir (1. quem vai levar a idéia à realidade, "designar"... sim, porque corremos este risco, e 2. quem vai trabalhar na construção) e a que custo social? Sem esquecer do custo ambiental e da característica masculina (branca, ocidental) de coisas "titanic" com o qual brinquei antes..."[Flip em futurismus].
Sobre isso, me parece bem direta a associação - e não menos interessante pacas o comentário do Flip - do modo de produção com a "macro-tipologia" [horizontal e caóticamente livre] utilizada nas obras do Constant e de Sant'Elia ou do Mies [verticais e produzida por somente um par de mãos desenhantes/designantes], por exemplo.
Um objeto qualquer pra ser produzido numa escala verticalizada tende - salvo se relevo e alguma técnica específica ajudarem - a necessitar muito mais coordenação. Principalmente pelo fato de que quase obrigatoriamente a construção será feita de baixo para cima, linearmente oganizada. Claro que a ocupação e uso disso podem ser frutos de processos muito diversos e que há estratégias potenciais para mitigar esse efeito centralizador, especialmente da concepção da obra em questão.
Já um objeto horizontalizado tem diversas formas de construir, pode ser de dentro pra fora, de fora pra dentro, do chão a cobertura, iniciar com a cobertura, etc, etc etc. Por necessitar de técnicas mais ao alcance do homem [sem contar com ferramentário específico ou maquinário] as construções mais horizontais se aproximam muito mais do homem-autônomo.
É também questão de um bom-senso [de princípio, mas não necessariamente de fim] considerar que as construções mais no chão são mais econômicas energeticamente, especialmente pela diminuição da performance exigida dos materiais e pelo uso de maquinário pra execução e produção dos insumos. Lógico que isso não se sustenta numa lógica urbana, onde ter centros concentrados pode ser muito eficiente, até um ponto ao menos.
Dessa conversa obvia e rasteiriça cheia de considerações eu abandono a retórica para lançar os tais posts do AD, abaixo duas conversas sobre uma obra do Nouvel para Nova Iorque, a "mais totalitária" e outra, com uma cara [ao menos] diversa.
[carinha faceira - Axis Mundi]
Com isso o que pretendo? Hora, dar um pouco mais de confusão nessa história. Se olharmos um pouco pra idéia de estrutura do Axis Mundi, imaginamos que seria possível gerar uma estrutura a lá Archigram que permitisse a plugagem desses módulos ou a construção paulatina dos elementos de preenchimento.
Nada de novo, mas com uma cara interessante, principalmente se confrontado com o projeto do Nouvel que é tudo da tal afirmação da "característica masculina (branca, ocidental)" de que falava Flip logo lá em cima.
Por outro lado, é justamente nessa carinha bonita que reside um cadafalso: o de que a diversidade das soluções, por sí só ou em grande parte, pode ser responsável por qualquer determinação de democratias. Pulando por cima desse discurso pós-mo de balcão, caímos na dúvida do que fazer em direção dessa arquitetura mais aberta a possibilidades e que seja principalmente fruto de um processo social de autonomia.
Acredito que seja exatamente aqui que as chamadas "macro-tipologias" lá de cima contribuem mais pra explicar o fenômeno do desígnio: um espaço que se pretenda dialógico com a sociedade na qual se insere (ou pela qual é produzido) deve ser fruto de conexões sociais espacializadas, sabendo-se capaz, também, de contribuir para socializações diferentes das existentes ou pela intensificação de certas práticas.
Nesse sentido, espaço é produto e produtor de sociedade, desde a concepção a simbologia semântica ou sintática que busque. O desenho deste espaço idealmente se converte em meta-desenho, ou na criação de ferramentas para se desenhar abertamente. De maneira defensiva, essas ferramentas tem, pelo pós-Moderno que há entre nós - sido tencionadas em direção ao não-desenho [uma vez que o Moderno era justamente o ultra-desenho].
Hoje, nos meios sociológicos, urbanístico-participativos e mesmo nos delírios ecologísticos espalhados por aí, diversas posturas processuais na arquitetura buscam diminuir o impacto da mão-projetante enquanto buscam salientar o impacto e a influência na concepção das mãos-construtoras.
Não discordo dessa postura - ao menos se for temporária e transitória para um outro estado de projetar - mas acho que é limitada, por se definir como negação de algo sem considerar a sua própria necessidade de negação [a sua superação], necessária uma vez que perca seu caráter de contestação e se transforme em afirmação de outra forma totalizante.
Se no futuro conseguirmos pensar em maneiras de trabalhar o projeto e a edificação socialmente, espero que isso se dê de maneira a incluir essa dialética da relação entre projeto e a sociedade. Enquanto isso, continuamos. Desconfiando.