sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Formação em Agroecologia

E por aqui alguns ciclos começam a se fechar e se consolidar...

A coisa é grande e vem se debruçando...

Buenas,

A sustentabilidade hoje virou etiqueta. A transição entre um modelo extremamente nocivo ao meio ambiente, para uma relação mais equilibrada com os recursos naturais, finalmente aparece nas políticas públicas, nas pesquisas científicas, depois de ser longamente defendida pelos movimentos sociais. Mas a simples adoção de técnicas consideradas sustentáveis, não é suficiente para a transformação necessária. A agroecologia não se limita às técnicas de produção limpas, sem veneno. Ela relaciona aspectos da vida no campo e na cidade e re-significa nossa existência, porque trabalha a compreensão do respeito como prática cotidiana. Essas práticas não são um museu imutável, mas se recriam a partir de diferentes realidades locais.

Com essa compreensão, agregada a experiência do Instituto Morro da Cutia (Imca), na transição agroecológica da Cooperativa dos Citricultores Ecológicos do Vale do Caí (Ecocitrus), contando agora com a parceria do Casatierra, convidamos todas e todas para participarem da Formação em Agroecologia.

O primeiro módulo será nos dias 8 e 9 de março (sábado e domingo), em Montenegro.

Ao todo serão sete módulos voltados para a formação básica em agroecologia.

A programação do primeiro módulo inclui palestra sobre a experiência em Agroecologia, da Cooperativa dos Citricultores Ecológicos do Vale do Caí (Ecocitrus), com o agricultor Paulo Lenhardt; aulas sobre Sistema de captação de água da chuva e construção de cisterna, com o bioconstrutor Fernando Campos Costa; Biodinâmica, com o biólogo Luis Carlos Laux e Agrofloresta, com o engenheiro florestal Stefano Ilha Dissiuta.

Além de informações técnicas, os participantes irão vivenciar as diferentes práticas durante toda a formação, no Centro de Tecnologias do IMCA.

A formação é dirigida para agricultores familiares, movimentos sociais, técnicos e estudantes que buscam iniciar a caminhada da agroecologia.

Mais informações em http://casatierra.blogdrive.com/

Revista Ambiente completa 100 números

A Revista Ambiente está completando 100 edições, infelizmente hoje apenas digitais. Como sempre traz discussões de grande relevância para o mundo da Arquitetura, do Urbanismo e do ambiente em geral. Destaque especial para "infinitas questiones pendientes", o editorial do n° 100 e uma maneira bem característica deste pessoal comemorar - se questionando.

Aproveitem!

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Conferência Mundial sobre o Desenvolvimento de Cidades

"Inovação democrática e transformação social para cidades inclusivas no século 21"

Promoção:
Prefeitura de Porto Alegre
Prefeitura de Montreal
Ministério das Cidades
sob os auspícios da UNESCO e da UN-HABITAT.


Parceria:
Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID)
Banco Mundial (BIRD)
Cities Alliance
Observatório Internacional de Democracia Participativa (OIDP)
Cidades e Governos Locais Unidos (CGLU)
Comissão de Inclusão Social e Democracia Participativa (CISDP)
Associação Internacional dos Prefeitos Francófonos (AIMF)
Conselho Europeu de Municipalidades e Regiões (CEMR)


ilustração com cores invertidas do logo do evento


1° DIA - 13/02 - O Direito à Cidade
Políticas Locais sobre Direitos e Responsabilidades dos Cidadãos

Bom, agora são 15:17, acabei de chegar da PUC e quis escrever imediatamente pra não perder o estado de espírito da CMDC. Depois de muitas voltas e raciocínios voluptuosos, quase barrocos, cheguei a uma palavra que resume, pelo menos o estado de espírito deste primeiro dia de conferência: TOSCA. Mas logo ela foi insuficiente e tive que acrescentar: BUNDA-MOLE.

Cheguei atrasado (como de costume) e peguei só o fim da abrtura do evento que tem como tema do primeiro dia "O Direito à Cidade". Ingenuamente, fui-me esbaforido ouvir a parte que mais interface faz da Sociologia com Arquitetura e Urbanismo. Um tesão, em resumo. Subi as escadas correndo, peguei crachá e uma mochilinha cheia de badulaques e objetos que mesmo antes de serem usados já se pode chamar lixo. Entrei no auditório do centro de eventos da PUC e sentei-me finalmente para saborear o contiúdo. Pois não é que em menos de 20 minutos começei a quase dormir na cadeira de tanto ouvir raciocínios curtos que não tem nada de novo, uma parte genérica sem sentido que se pretendia um panorama geral sobre a questão "desenvolvimento e direito à cidade", totalmente sem crítica e, ainda, pode-se dizer medrosa.

Em algum momento alguém fala em Henri Lefebvre, me ajeito na cadeira (porque agora viria a parte interessante!). Mais brochação. O cara citou o Lefèbvre para dizer que ele foi o primeiro a levantar a questão sobre o direito à cidade. Mas presumo que ele fez uma pesquisa de títulos e datas e, por eliminação chegou a esta conclusão, pois o conteúdo de "O Direito à Cidade" de Lefebvre era total estranho a este senhor. Ele não conseguiu nem falar do título do livro porque, óbvio, ele nunca tinha lido. Não aguentei até o fim, saí pra tomar um café.

Na tarde, mais ananás reunidos ao redor de uma mesa falando do "desenvolvimento" como se fosse uma coisa muito objetiva, através de experiências próprias nos seus países. Resumo das idéias: apologia do estado mínimo (e com este argumento presumem conseguir coptar a idéia de autogestão [!], conceito com o qual fazem um malabarismo pra adaptar ao neoliberalismo, malabarismo que começa lá pelo Dirceu Carneiro do PSDB na década de 70 e chega até o Olívio Dutra do OP do PT dos ultimos 12 anos de gestão), desresponsabilização do poder público, transferência dos deveres do estado para as associações civis, ode ao trabalho, à "qualidade de vida", capital social e muitas outras bizarrices que vcs nem podem imaginar. A sensação era "o que que eu to fazendo aqui...". Saí na metade pela segunda vez.

***

2° DIA - 14/02 - Governança e Democracia em Cidades
Experiências Inovadoras de Gestão e participação Democrática

Algumas curiosidades hoje.

Primeiro, a tividade de abertura: Governança e democracia em cidades - experiências de perticipação democrática. Um tal Antanas Mokus, prefeito de Bogotá, Colômbia. No seu governo conseguiu reduzir a criminalidade na capital em 48%. Por que ele está aqui? Certamente não é à toa. Fogaça e o PIG (Partido da Imprensa Golpista) pretendem usar métodos que dêem resultados estatícos semlhantes com políticas semelhantes, por exemplo: lei seca, já em vigor nas rodovias, mas não a 10 metros delas. Mas o homem (Mokus) é capaz de coisas inesperadas que o nosso prefeito, o homem genérico por excelência, não seria, como baixar as calças para os manifestantes que faziam barulho na sua palestra certa feita. O primeiro n° do Le Monde Diplomatique brasileiro traz uma longa reportagem sobre este tema.

Na oficina Modelos sistêmicos de gestão de cidades, apologia da gestão empresarial do estado para aumentar a eficiência e gerar resultados estatísticos. Falam em qualidade, mas todas as pautas qualitativas são embasadas em quantitativas. Quer dizer, isso não pode ser sério... ou pode?

Já no "grande painel 2" O grande painel John Dewey sobre democracia cooperativa, o tema foi John Dewey, um norte-americano que escreveu sobre democracia pragmática embasada na educação progressiva. "Para Dewey era de vital importância que a educação não se restringisse ao ensino do conhecimento como algo acabado – mas que o saber e habilidade do estudante adquirem possam ser integrados à sua vida como cidadão, pessoa, ser humano." (Wikipedia). A isto chamou de experimentalismo. No final das contas temos um experimentalismo pragmático. Será?

Não sei, mas sei que as pessoas que foram convidadas para esta conferência tem um lado bem definido, e não é o do ser humano, tenho impressão de que não precisamos ir longe pra saber qual é o lado...

***

3°DIA - 15/02 - Desenvolvimento Local em Cidades
Processos de investimento em Capital Social para Desenvolver Ativos Econômicos, Ambientais, Humanos, Sociais e Político.

Hoje destaque especial para o PIG (Partido da Imprensa Golpista) na figura da Zero Hora, que insiste numa comparação insólita desta bizarrice com o Fórum Social Mundial. Segue a "notícia no ZH online:

Clima da conferência contrasta com a informalidade dos Fóruns Sociais
No lugar das batas hippies, tailleur e maquiagem. Em vez de camisetas e calças de algodão cru, gravatas e camisas sociais.

Pelo menos nos trajes, a Conferência Mundial sobre Desenvolvimento de Cidades tem pouco em comum com o Fórum Social Mundial (FSM).

Não que o colorido dos militantes das Organizações Não-governamentais (ONGs) que marcou as edições porto-alegrenses do FSM esteja ausente desta conferência mundial sobre experiências urbanísticas. As barulhentas ONGs apenas agem como minoria na conferência.

O próprio nome do encontro que se realiza agora na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) explica a diferença. A Porto Alegre dos fóruns sociais mundiais virava uma cidade alternativa ao debater as utopias de esquerda (?). Agora, a capital gaúcha é sede de um evento que estuda alternativas práticas (?) para o futuro das cidades.

Até o tipo de assistente das palestras mudou. Abundam entre os 6.968 inscritos na conferência arquitetos, urbanistas e alunos de Direito, muitos deles policiais - sim, porque violência e crime são alguns dos assuntos palpitantes nos painéis. Estudantes também marcam presença, mas não de forma esmagadora como nos fóruns sociais.

Grande parte dos palestrantes é vinculada a algum tipo de governo e, bem de acordo com a função, traja-se a rigor. Formalidade que também influencia no visual da platéia, integrada por muitos assessores parlamentares ou comitivas oficiais de seus países. Que o diga o moçambicano Fernando Arrossa, integrante do Conselho Municipal da cidade de Matola. Ele e quatro conterrâneos perambulavam de terno e gravata na tarde de ontem pelas salas da conferência. São vereadores e vestiam-se como seus colegas brasileiros, roupa alinhada, cabelos cortados rente, cores discretas. Não fosse o sotaque, poderiam ser confundidos com executivos do Primeiro Mundo.

(...)

A música ambiente também é muito diferente da vivenciada nos Fóruns Sociais Mundiais. No lugar dos violões e das gaitas-de-boca dos acampamentos - aliás, não existem acampamentos nesta conferência - , os freqüentadores na PUCRS se deleitam, por exemplo, com solos de violino. Eles são patrocinados, no caso, por Vinícius Nogueira, violinista profissional há uma década, contratado pela Caixa Econômica Federal. Conseguiu atrair um público cativo. Tudo muito zen. Ou muito cool, como preferem os norte-americanos. Ha-ha-ha.

***

4° DIA - 16/02 - Sustentabilidade e Cidade-rede

Emergência das Redes Sociais e a Cidade Sustentável do Futuro

Bom, como a paciência já acabou vou apenas citar as duas maiores besteiras do dia:

1. Green Capitalism, sem comentários.
2. a técnica é neutra, pode ser usada para o bem ou para o mal... a técnica e a tecnologia ajudam a compor os limites do pensamento de uma época e de neutra não tem nada, isto já não é segredo pra mais ninguém, menos pros palestrantes da conferencia mundial de cidades...

sábado, 9 de fevereiro de 2008

Paulo Mendes da Rocha e o "fazer" da arquitetura

Hoje está fazendo uns bons 22 meses que ele ganhou o Premio Pritzker, o Nobel da Arquitetura, o segundo brasileiro a ganhar. Antes veio o Niemeyer. O resultado oficial da premiação foi divulgado no dia 09 de abril de 2006 em Chicago.

Dentre as declarações de PMR estão as de que "não faz muito sentido para mim defender o caráter nacional; o colonialismo produziu horrores porque não soube ler a experiência dos nativos". Além disso diz que a Arquitetura deve ser uma disciplina especulativa e não se render ao mercado, diz que Brasília é africana e afirma que não há uma arquitetura brasileira.

Reproduzo um trecho de uma bela entrevista disponível na íntegra em http://www.arcoweb.com.br/entrevista/entrevista38.asp

Olhar 43 de PMR para foto de livro da Cosac&Naify

Fale sobre sua forma de projetar, em parceria com outros escritórios.

Paulo Mendes da Rocha - O trabalho de arquitetura tem de ser feito com participação efetiva de companheiros; não pode ser solitário. Há uma permanente interlocução, mesmo quando não está explícita. Nosso modo de trabalhar não é inédito, e, no nosso caso, ele é conseqüência da nossa vivência na escola, o fato de termos convivido na FAU-USP.


E certamente muitos deles foram seus alunos...

Todos foram meus alunos, mas não é isso. É mais uma questão de clima. Tenho a impressão de que nenhum deles aprendeu nada comigo. Somos um grupo de arquitetos. O resultado do nosso trabalho é uma questão que não se pode prever muito, é uma espécie de desencadeamento de uma situação. Considero nossa forma de trabalho um privilégio. E ideal.


Por que ideal?

É que, na verdade, ela resulta de uma escolha de nós todos, não sou eu que escolho. Iniciamos um trabalho que, desencadeado, é impossível fazer de outro modo.


Como aconteceu essa aproximação?

O que nos aproximou foi o trabalho.
O grupo é unido por amizade, parceria, e, mais do isso, por solidariedade no trabalho. E, claro, nós enfrentamos o trabalho com certa dificuldade.
A prática do trabalho, a prática pública, o trato com construtoras, empresas, a demanda de trabalho, e mais, tentando sempre preservar a integridade do projeto, enfrentando a vertigem do mercado e coisas do tipo. E, inclusive, tentando preservar a independência e a liberdade do discurso da arquitetura como uma forma de conhecimento.
O grupo todo se ampara muito bem nessa expectativa, mantendo certa independência no trabalho em relação à expectativa preexistente das demandas. Em certo sentido, procuramos replicar a vertigem do mercado.


PS: Quem dera que cheguemos aos 77 anos deste jeito...

Continua em http://www.arcoweb.com.br/entrevista/entrevista38.asp